Árvores
Tenho a felicidade de viver, desde criança bem pequena, numa terrinha muito perto de um dos pulmões verdes da Grande Lisboa. Os grandes aglomerados de árvores, tal como as vastas extensões de água, sempre tiveram sobre mim um efeito calmante. É a olhar ou a passear junto a estes pedacinhos de natureza quase impoluta que eu relaxo e esvazio a cabeça.
Pois acontece que há algumas semanas começaram a cortar aceleradamente uma grande zona arborizada que faz (fazia) parte desse pulmão, e que em menos de nada ficou completamente despida de verde e ocupada por estaleiros, retroescavadoras e máquinas afins. Para mal dos meus pecados, no meu caminho para o trabalho passo todos os dias por essa zona, e não consigo deixar de sentir uma enorme tristeza quando me deparo diariamente com aquela desolação.
Há uns anos sucedeu-me o mesmo quando decidiram fazer, mesmo junto a onde vivo, um enorme nó de auto-estradas, e para isso rasgaram terrenos e abateram a eito muitas árvores que ali habitavam desde que tenho memória. Depois da conclusão das obras voltaram a rearborizar algumas áreas, que só agora, mais de vinte anos passados, começam a assemelhar-se vagamente ao que existia anteriormente.
Quanto ao destino da área agora destruída, este artigo do Público diz que vai nascer ali a “Cidade do Futebol”, mas eu vou esperar para acreditar. É que em tempos esteve prevista para aquele mesmo local uma urbanização megalómana, e como supostamente todo o projecto não vai envolver nem “um cêntimo de financiamento público” (então e o valor dos terrenos não é financiamento público???) e a Câmara local é bem conhecida por conseguir obter financiamentos (para obras públicas) em troca de certas “facilidades” para outros projectos privados, desconfio que além da dita “Cidade” é capaz de ir nascer mais qualquer coisa. A ver vamos…
Amante de papel como sou, é um bocado incongruente que me custe tanto ver deitarem árvores abaixo. Sim, eu sei que são as árvores que fornecem a celulose para fazer o papel, e que quando compro um caderno ou um livro estou a contribuir para que mais uma árvore seja abatida. Mas para esta actividade podem ser – espero que sejam… - estabelecidas áreas definidas, onde as árvores se destinem exclusivamente para a indústria da celulose e depois do abate sejam substituídas por novas árvores.
Mas nada disto diminui a minha tristeza, e eu estou absolutamente inconsolável…