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Gene de traça

Livros e etc.

Amor e copos de água

por Ana CB, em 19.02.16

ROMANCE ACIDENTAL

Martha Woodroof

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Título: Romance Acidental

Título original: Small Blessings

Autor: Martha Woodroof

Ano de lançamento: 2014

 

Editora: Edições Asa II

Publicação: 1ª edição – Março 2015

Número de páginas: 399

Tradução: Elsa T. S. Vieira

  

“Se Jane Austen e Woody Allen se juntassem para escrever um livro o resultado seria algo semelhante a Romance Acidental”. Foi esta frase escrita na capa que me aguçou a curiosidade e me fez comprar este livro. A sinopse também ajudou. A história de um professor de inglês, Tom Putnam, casado com uma mulher neurótica e dependente, na vida de quem surgem de repente uma interessante livreira e um filho que obviamente não pode ser dele… Suficientemente intrigante para despertar o meu interesse. Foi por isso com expectativas algo elevadas que comecei a ler o livro de Martha Woodroof. Talvez elevadas demais, inteiramente por “culpa” do bom marketing a ele associado (gosto tanto da capa…). E talvez por isso quando acabei de o ler me tenha sentido um bocadinho frustrada.

 

Mas vamos por partes. O melhor do livro? A história e as personagens. O pior do livro? A história e as personagens. Hã? Estou a confundir-vos? Pois é isso mesmo que este livro criou em mim: sentimentos mistos.

 

A autora conseguiu criar um enredo interessante e algo fora do vulgar, que desenvolve com segurança. A acção vai decorrendo de forma fluida e sem atropelos, e ainda assim temperada com a quantidade suficiente de mistério para nos manter intrigados sobre o que está para vir. Há um certo lirismo que transparece na escrita de Martha Woodroof, tanto nas situações que cria como nas imagens frequentemente metafóricas e simbólicas que usa nas descrições. E em toda a história perpassa uma certa “delicadeza” – como se todos andassem em bicos de pés – que nem mesmo os momentos mais terra-a-terra ou dramáticos conseguem destruir.

 

As personagens têm personalidades bem definidas e compõem um leque diversificado. Tom é um professor calmo e empenhado, e um marido dedicado; Rose é um poço de charme, uma mulher independente e cheia de encantos, mas com dificuldade em prender-se; Marjory é uma borboleta frágil de asas queimadas, um espírito perdido no mundo dos humanos; Agnes é um pilar de força, sensatez e amor; Iris é excêntrica e descompensada; Russell é pedante e traumatizado; e Henry é o filho bem comportado que todos gostaríamos de ter.

 

Só que… É tudo bom demais para ser verdade. Ninguém é assim. Ninguém é tão paciente e abnegado quanto Tom, nem tão invulgar e brilhante quanto Rose; nenhuma criança de seis ou sete anos é tão madura quanto Henry… Todas as personagens do livro parecem (ou pelo menos parecem-me) demasiado pouco credíveis, até mesmo para um romance tão repleto de sentimentos e sensibilidade quanto este. Não consegui sentir nenhuma delas como realmente humana, corpórea, não se estabeleceu entre mim e elas aquela “ligação” que me faz entrar numa história como se estivesse a visualizá-la, ou até mesmo a vivê-la.

 

Quanto à acção, apesar de me ter prendido o suficiente para ler o livro em pouco tempo, acaba por ter um enredo algo “conveniente”, e mesmo as ameaças de um final menos previsível não passam disso mesmo: simples ameaças. As cenas mais dramáticas e emotivas não conseguiram verdadeiramente manter-me em suspenso, nem surpreender-me com reviravoltas inesperadas – a não ser por terem um desfecho mais rápido ou simples do que eu contava.

 

Talvez a impressão que este livro me deixou seja influenciada pelo facto de o ter lido logo a seguir a um outro que, esse sim, tem mais contacto com a realidade. E na verdade até o apreciei o suficiente para recomendar a sua leitura a quem gostar de romances tipicamente norte-americanos, cheios de ternura, com muito fatalismo e muitos sentimentos e traumas escondidos, à mistura com um apontamento de humor aqui e ali, e a habitual dose de moralidade q.b.

 

Mas, para mim, lê-lo foi um pouco como beber uns quantos copos de água: matou-me a sede de leitura, mas não foi suficiente para alimentar o meu espírito.

 

 

 

A vida como ela é

por Ana CB, em 12.02.16

A VIDA AMOROSA DE NATHANIEL P.

Adelle Waldman

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Título: A Vida Amorosa de Nathaniel P.

Título original: The Love Affairs of Nathaniel P.

Autor: Adelle Waldman

Ano de lançamento: 2013

 

Editora: Teorema

Publicação: 1ª edição – Março 2015

Número de páginas: 288

Tradução: Luís Rodrigues dos Santos

 

 

“A Vida Amorosa de Nathaniel P.” gira à volta de um escritor em ascensão que vive em Nova Iorque e dos seus relacionamentos com o meio social e cultural em que se move e as mulheres. Aclamado “Livro do Ano” por vários jornais de referência, como o “The New Yorker”, o “The Guardian” ou o “Chicago Tribune”, entre outros, este livro acaba por ser uma espécie de crónica sobre um determinado tipo de “fauna” nova-iorquina e os seus hábitos sociais. Contundente sem no entanto cair no moralismo (que é habitualmente tão querido dos norte-americanos), Adelle Waldman oferece-nos a visão nua e crua do que poderá ser nos dias de hoje a vida de um jovem numa cidade americana moderna.

 

Nate Piven é ambicioso, talentoso e incapaz de manter uma relação amorosa sã e duradoura. O seu entusiasmo por qualquer mulher é breve e não resiste à continuidade de um relacionamento, embora por vezes ele se deixe “ir na onda” – mas apenas por comodismo. Só que Nate tem consciência das suas fraquezas de carácter e daquilo que a sociedade espera dele, por isso vive quase constantemente em conflito consigo próprio, dividido entre o seu egoísmo consciente e a pressão de querer dar aos outros uma boa imagem de si. Sempre narrada do ponto de vista de Nate, embora não na primeira pessoa, a história entrelaça de forma natural pedaços do presente com reminiscências de acontecimentos passados, momentos de introspecção com diálogos e descrições vívidas, e nunca se torna repetitiva ou aborrecida.

 

A impressão maior com que fiquei deste livro-surpresa-best seller de Adelle Waldman é a de que a história e as suas personagens poderiam muito bem ser reais. Não existem cenários idílicos, situações mirabolantes ou pessoas excepcionais. Tudo parece tangível, e todas as personagens são extremamente credíveis. Com as devidas distâncias por se tratar de uma história que se desenvolve no seio de uma fatia específica da sociedade nova-iorquina, qualquer daquelas pessoas poderia ser eu ou um de vocês, qualquer acontecimento descrito poderia ter lugar na vida real. Não há “paninhos quentes” nem operações de cosmética que suavizem ou embelezem as situações narradas no livro.

 

A forma como a autora, sendo mulher, consegue descrever tão profundamente e de forma isenta aquilo que se passa na cabeça de um homem é outro dos aspectos surpreendentes do livro. Não sendo um exercício de escrita inusitado, é contudo pouco habitual e certamente nada fácil de executar sem cair no chavão ou escorregar no preconceito. Objectivo que Adelle Waldman consegue de forma brilhante em contenção, evitando até o facilitismo de um final previsível.

 

É um livro fácil de ler, apesar da reduzida simpatia que sentimos intermitentemente pela personagem principal, interessante sobretudo pela crítica social implícita ao longo de toda a história. E que levanta mais uma vez a grande dúvida: estará a sociedade ocidental dos nossos dias a transformar-nos em autistas dos afectos?

 

 

Os meus favoritos

por Ana CB, em 23.09.14

 

Esta moda dos desafios irrita-me um bocado, e até agora não tinha alinhado em nenhum. Mas há dias uma amiga muito querida desafiou-me a fazer uma lista de livros de que gosto, e a este eu não resisti – pela amiga em questão, e por ser sobre livros.

A tarefa não foi nada fácil e a lista inicial estava tão extensa que tive de cortar bastantes, e mesmo assim ainda é bem grandinha. Por essa mesma razão, e para a lista também não ser demasiado óbvia e entediante, optei por deixar de fora muitos clássicos e alguns best-sellers muito “badalados” e já conhecidos de quase toda a gente, e escolhi alguns que serão certamente desconhecidos para a maioria das pessoas.

Tentei também incluir livros de vários géneros diferentes, a bem da diversidade.

É, está claro, uma lista muito pessoal e sem quaisquer pretensões intelectuais ou comerciais.

 

“O Tao do Pooh” – Benjamin Hoff

“Mas é Bonito” – Geoff Dyer

“Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada” – Pablo Neruda

 

“Histórias Extraordinárias” – Edgar Allan Poe

“Guerra e Paz” – Leon Tolstoi

“O Retrato de Dorian Gray” – Oscar Wilde

 

“As Intermitências da Morte” – José Saramago

“A Cidade e as Serras” – Eça de Queiroz

“Retalhos da Vida de um Médico” – Fernando Namora

“O Império dos Pardais” – João Paulo Oliveira e Costa

 

“Wolf Hall” e “O Livro Negro” – Hilary Mantel

“Um Quarto com Vista” – Edward Morgan Forster

“O Físico” – Noah Gordon

“O Perfume” – Patrick Süskind”

“O Boticário do Rei” – Jean-Christophe Rufin

Trilogia do Cairo (“Entre os Dois Palácios”, “O Palácio do Desejo”, “O Açucareiro”) – Naguib Mahfouz

“A Alameda do Rei” – Françoise Chandernagor

“A Estratégia do Bobo” – Serge Lentz

“Da Parte da Princesa Morta” – Kenizé Mourad

“O Tempo Entre Costuras” – María Dueñas

 

“Americanah” – Chimamanda Ngozi Adichie

“Cem Anos de Solidão” – Gabriel Garcia Márquez

“O Quinto Filho” – Doris Lessing

“Meia Noite no Jardim do Bem e do Mal” – John Berendt

 

“A Dália Negra” – James Ellroy

Trilogia Millennium (“Os Homens que Odeiam as Mulheres”, “A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo”, “A Rainha no Palácio das Correntes de Ar”) – Stieg Larsson

“O Assassinato de Roger Ackroyd” – Agatha Christie

 

“1984” – George Orwell

“Admirável Mundo Novo” – Aldous Huxley

“Viagem Fantástica ao Cérebro” – Isaac Asimov

“O Hobbit” – JRR Tolkien