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Gene de traça

Livros e etc.

Há sempre um livro desconhecido à espera de nós #5

por Ana CB, em 12.05.16

 

Policial, histórico, baseado em factos verídicos, com um toque de "noir" aqui e ali… poder-se-ia pensar que um livro com tanta mistura de géneros se revelasse uma coisa sem pés nem cabeça. Mas não, nada disso, é precisamente o contrário que acontece nesta sugestão de leitura de que hoje vos falo.

 

"VOLTE-FACE" de Steven Saylor

 

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Título: Volte-Face

Título original: A Twist at the End

Autor: Steven Saylor

Ano de lançamento: 2000

 

Editora: Quetzal Editores

Publicação: Outubro 2003

Número de páginas: 552

Tradução: Maria José Figueiredo

 

 

Sinopse

 

Em 1885 Austin, no Texas, é um lugar feito de pó e sonhos, fortunas rápidas e desejos selvagens. Mas “O aniquilador das empregadas domésticas” também está a transformá-la numa cidade de medo. A primeira vítima, uma governanta mulata, é arrancada da sua cama e assassinada. Outras seis mulheres irão morrer, incluindo a bonita e loira Eula Phillips, amante do empregado bancário Will Porter. Uma década mais tarde, vivendo em Nova Iorque sob o nome de O. Henry, Will não consegue escapar às suas memórias – nem às exigências impiedosas de um chantagista. É então que uma carta misteriosa o convida a regressar ao Texas para seguir o caminho obscuro de um assassino sádico e fazer uma descoberta espantosa, enquanto é forçado a confrontar-se com os demónios da sua própria mente atormentada.

(sinopse traduzida a partir daqui)

 

 

A minha opinião

 

Steven Saylor é conhecido pelos seus livros policiais que constituem a série “Roma Sub Rosa”, protagonizada pelo genial Gordiano, o Descobridor, que desvenda crimes e mistérios de forma pouco ortodoxa durante os conturbados anos áureos da civilização romana. Neste “Volte-Face”, o escritor consegue mais uma vez conjugar personagens e factos verídicos com a dose de imaginação certa para nos oferecer um policial cheio de peripécias, tendo como cenário de fundo a cidade de Austin no início do séc. XIX. Associando a vaga de assassinatos macabros (nunca desvendados) que ocorreu nesta cidade a um potencial pré-Jack o Estripador, cuja identidade nos é revelada no final, o escritor mostra-se mais uma vez exímio na arte de misturar factos e ficção e demonstra aqui a sua versatilidade ao sair da “zona de conforto” do império romano, onde já nos tinha provado estar como peixe na água.

Mesmo sendo apreciadora de longa data de Steven Saylor e da sua arte de contar histórias de forma interessante (li avidamente todos os livros da série “Roma Sub Rosa”) gostei particularmente deste livro, tanto que já o li duas vezes. O ritmo da narrativa vai-se intensificando com o desenrolar da história, e às tantas dei por mim ansiosa por conhecer o final, tantas eram as dúvidas sobre qual seria o desfecho do livro e se haveria realmente um volte-face surpreendente.

Não quero ser spoiler, por isso nada mais direi. Apenas que este livro é entretenimento puro.

 

(Nota: há alguns exemplares à venda em vários sites de livros usados, e a preços em conta.)

 

 

Há sempre um livro desconhecido à espera de nós #4

por Ana CB, em 24.02.16

Se um romance histórico é bom, um romance histórico baseado em factos verídicos ainda é melhor. A somar a isto, a autora é filha da protagonista do livro e a história divide-se entre a Turquia, o Líbano, a Índia e Paris. Que mais se pode querer?

 

“DA PARTE DA PRINCESA MORTA” de Kenizé Mourad

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Título: Da parte da princesa morta

Título original: De la part de la princesse morte

Autor: Kenizé Mourad

Ano de lançamento: 1987

 

Editora: Círculo de Leitores

Publicação: Dezembro 1999

Número de páginas: 592

Tradução: Maria Bragança

 

 

Sinopse

 

Esta história tem início em 1918 na corte do último sultão do Império Otomano. Selma tem sete anos quando vê desmoronar-se esse Império que fez tremer toda a Europa. Condenada ao exílio, a família imperial instala-se no Líbano. Selma, que perdeu ao mesmo tempo o seu pai e o seu país, crescerá em Beirute e aí encontrará o seu primeiro amor. Mais tarde, aceitará casar com um rajá indiano que nunca vira. Levada para a Índia, conhecerá o fausto dos marajás, os últimos dias do império britânico e a luta pela independência travada por Gandhi. Mas lá, como no Líbano, será sempre “a estrangeira”. Rejeitada pelo povo que começara a amar, foge para Paris, onde encontrará finalmente um verdadeiro amor. A guerra no entanto separa-os, e Selma morrerá na miséria, com 29 anos, depois de ter dado à luz uma filha: precisamente a autora deste livro.

(sinopse publicada aqui)

  

 

A minha opinião

 

Para compreender verdadeiramente todo o interesse deste livro há que conhecer um pouco da história da sua autora. Kenizé Mourad, de seu nome original Kenizé de Kotwara, nasceu em 1940 em Paris. A mãe era uma princesa turca da dinastia otomana, neta do sultão Mourad V, que casou com um rajá indiano e mais tarde se refugiou em Paris. Órfã de mãe antes de ter um ano de idade, Kenizé foi criada num ambiente ocidental católico, mas a busca das suas origens levou-a ainda jovem a tentar conhecer melhor o Islão e os seus valores e a viajar até à Índia e Paquistão. Jornalista, correspondente de guerra no Médio Oriente e em África, decidiu um dia escrever a história da sua família e para isso pesquisou longamente o percurso de vida da sua mãe. Resultou daí este livro e mais tarde, em 1998, um outro com o título “Um Jardim em Badalpur”.

 

Adorei este livro, que me manteve agarrada da primeira à última página. O facto de ser baseado numa história verdadeira, embora obviamente romanceada, mostra que a vida por vezes não fica a dever nada à ficção. O período de vinte e poucos anos em que a acção decorre foi uma época especialmente conturbada do séc. XX, uma época de grandes mudanças nos planos político e social, fértil em acontecimentos violentos e convulsões político-geográficas, e ao mesmo tempo de abertura das sociedades e avanços no que toca à igualdade entre as pessoas. Além disso, fala-nos de questões que nós, europeus ocidentais, desconhecemos quase completamente, por serem específicas de determinadas sociedades orientais com cujos hábitos e história não estamos familiarizados.

 

Selma, a protagonista da história e mãe da autora, é uma rapariga/mulher dividida entre a tradição e a evolução, espartilhada por uma educação e uma sociedade em que as mulheres não são cidadãs de pleno direito e as distinções de classe falam mais alto do que a justiça, mas dotada de uma personalidade forte e um bom senso que a levam a rebelar-se contra um determinado status quo, e a procurar a sua própria forma de vida.

 

E depois há as descrições dos ambientes, dos cenários, dos costumes e rituais. Tudo narrado com profusão de pormenores e grande sensibilidade, com cenários e diálogos que sendo em grande parte ficcionados, espelham na perfeição o espírito de uma época.

 

Este livro é uma grande e bonita lição de história e de amor. Amor à vida, mesmo com todas as suas vicissitudes. E amor por uma mãe desconhecida, que milagrosamente adquire vida nas suas páginas e nos leva numa viagem à descoberta de um mundo que já desapareceu.

 

 

 

Há sempre um livro desconhecido à espera de nós #3

por Ana CB, em 14.12.15

 

Este livro é o que de mais parecido tenho com um “livro de cabeceira”. Volto a ele regularmente para ler algumas partes, e por vezes acabo mesmo por o reler de uma ponta à outra. É perfeito para esta altura do ano: para ler no quentinho do sofá numa manhã de preguiça, e para esquecer o chamamento comercial da época natalícia e perceber que o mais importante é (sermos e) fazermos os outros felizes.

 

 

“O TAO DO POOH” de Benjamin Hoff

 

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Título: O Tao do Pooh

Título original: The Tao of Pooh

Autor: Benjamin Hoff

Ano de lançamento: 1982

 

Editora: Sinais de Fogo

Publicação: Novembro 2000

Número de páginas: 180

Tradução: Rita Quintela

 

 

Sinopse

 

Afinal, nem todos os grandes mestres da sabedoria usam veneráveis barbas brancas. Benjamin Hoff descobriu um no Ocidente, cujo prato favorito é o mel. Através de um diálogo divertido e brilhante com o ursinho Winnie-the-Pooh e os seus amigos, o autor demonstra com simplicidade e mestria que, longe de ser um conceito distante e misterioso, o Taoísmo é afinal bem corriqueiro.

(sinopse retirada daqui)

 

A minha opinião 

 

Toda a gente conhece as deliciosas histórias do ursinho Pooh e dos seus amigos criadas pelo escritor inglês A.A.Milne. Pooh tem um carisma especial, uma forma simples e ingénua de olhar para o seu pequeno mundo, uma maneira de agir que parece preguiça mas é no fundo apenas de não-interferência. E neste livro Benjamin Hoff consegue – magnificamente – usar o Pooh e as outras personagens de Milne para ilustrar alguns dos princípios do Taoísmo e dar pistas para a sua aplicação no nosso dia-a-dia.

As filosofias orientais são aquelas com as quais mais me identifico desde sempre e o Taoísmo é provavelmente a mais desconhecida de todas, apesar de as suas origens remontarem ao séc. VII a.C. Embora também seja reconhecida como uma religião, a sua prática institucionalizada é reduzida, e permanece sobretudo como uma corrente filosófica que assenta na primazia da ordem natural das coisas e da serenidade, e nos exorta à moderação, à compaixão e à humildade. O que, convenhamos, não abunda nos dias de hoje nas sociedades ocidentais e ocidentalizadas.

No entanto, a base do Taoísmo é simplesmente uma forma particular de apreciar tudo o que nos sucede no dia-a-dia, de aprender e trabalhar com as nossas experiências; um caminho para harmonizar a nossa vida, que resultará em maior felicidade.

Desde que “descobri” o Taoísmo há alguns (já bastantes) anos, tenho procurado absorver e adaptar à minha vida diária alguns destes princípios, e este livro foi e é sempre uma ajuda preciosa. Fácil de ler e no entanto brilhantemente estruturado, divertido e ao mesmo tempo profundo, “O Tao do Pooh” instala-se rapidamente no nosso coração, tal como o ursinho que é o seu protagonista.

Só para aguçar o apetite, deixo-vos aqui com dois excertos de que gosto particularmente:

 

Um estilo de vida que repete constantemente ‘Depois da próxima esquina, acima do próximo degrau,’ vai contra a ordem natural das coisas e torna tão difícil ser-se bom e feliz que apenas uns poucos chegam a ser aquilo que seriam naturalmente à partida – Bons e Felizes -, e a maior parte desiste e cai pelas valetas, amaldiçoando o mundo, situação esta que não devemos julgar mas sim encarar como algo que está lá para indicar o caminho.

Aqueles que acham que as recompensas da vida estão algures por trás do arco-íris…

- Deixam queimar demasiado as suas torradas – disse o Pooh.

 

O principal problema desta grande obsessão por Poupar Tempo é muito simples: não podemos poupar tempo. Só podemos gastá-lo. Mas podemos gastá-lo sabiamente ou tolamente. O Voltuxa Oquepado não tem praticamente tempo nenhum, porque está demasiado ocupado a desperdiçá-lo ao tentar poupá-lo. E ao tentar poupar cada bocado de tempo, acaba por desperdiçá-lo todo.

 

 

(Podem encontrar aqui um artigo interessante sobre este livro. E se quiserem conhecer alguns factos curiosos da vida de A.A.Milne, o criador do Pooh, espreitem aqui)

 

 

Há sempre um livro desconhecido à espera de nós #2

por Ana CB, em 04.08.15

Tempo de férias é frequentemente sinónimo de praia, e este ano o Verão tem sido especialmente simpático para quem gosta de sol, areia e mar. E praia pede leituras mais leves, mais descontraídas (sobretudo para não acontecer o mesmo que à Magda, como ela conta neste post).

Por isso, a minha segunda sugestão é uma história levezinha e muito divertida que se desenrola à volta de um grupo de pessoas que gostam de… livros, pois então!

Mais uma vez, e segundo me parece, de momento só vai ser possível encontrar este livro em segunda mão… ou então lê-lo em inglês.

 

“PURA FICÇÃO” de Julie Highmore

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Título: Pura Ficção

Título original: Pure Fiction

Autor: Julie Highmore

Ano de lançamento: 1990

 

Editora: Círculo de Leitores

Publicação: Outubro 1993

Número de páginas: 382

Tradução: António Gonçalves

 

 

Sinopse

 

Quando a biblioteca local organiza um grupo de leitura, Ed é o primeiro a inscrever-se. Em breve juntam-se-lhe Kate, Zoe, Bob, Donna, e Gideon. À medida que o círculo de leitura atrai os seus membros para formarem uma comunidade improvável, as suas histórias tornam-se cada vez mais excêntricas, e as suas vidas cada vez mais interligadas.

(tradução da sinopse publicada aqui)

 

 

A minha opinião

 

As personagens desta história são simplesmente deliciosas e fora do vulgar. Cada uma com as suas peculiaridades e excentricidades, com as suas motivações, mas todas elas a tentarem fugir à rotina e aos momentos menos felizes. Entre estas pessoas tão diferentes umas das outras acaba por se criar uma comovente e inesperada teia de amizade e entreajuda, tal como na vida real encontramos por vezes pessoas tão diferentes de nós mas que nos surpreendem positivamente naquelas alturas em que mais precisamos de um ombro amigo. O facto de a história ser contada alternadamente do ponto de vista de cada personagem torna a leitura mais interessante, a meu ver.

É um romance fresco e divertido, perpassado de optimismo, despretensioso e no entanto suficientemente bem escrito, que se lê num ápice e nos faz sorrir frequentemente. Quanto mais não seja por isso, vale a pena a leitura.

 

 

 

Há sempre um livro desconhecido à espera de nós #1

por Ana CB, em 29.07.15

 

Dando início ao desafio que me propus aqui há dias, a minha primeira sugestão é um livro que acho bem apropriado para ler em tempo de férias. Não será certamente um livro fácil de encontrar, mas existe à venda em segunda mão.

 

“A ESTRATÉGIA DO BOBO” de Serge Lentz

  

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Título: A Estratégia do Bobo

Título original: La Stratégie du Bouffon

Autor: Serge Lentz

Ano de lançamento: 1990

 

Editora: Círculo de Leitores

Publicação: Outubro 1993

Número de páginas: 382

Tradução: António Gonçalves

 

 

Sinopse

 

Em Roma, incitado por uma mãe tão rica quanto ambiciosa, Nicolas d’Ausonne torna-se prelado com a idade de vinte e três anos. É um homem belo com um espírito brilhante, mas também um debochado sem emenda. Por ter apostado no cardeal errado na altura do conclave de 1458 (o chamado conclave das latrinas…), o jovem prelado cai em desgraça e vê-se exilado num mosteiro esquecido da região de Vallée Borgne, uma fenda árida e despovoada situada entre Cévennes e o Languedoc.

Acha-se assim na situação dos funâmbulos das feiras, que suscitam a admiração das pessoas quando caminham sobre um cabo, e o gozo de todos quando caem. Estes bobos nunca podem ser heróis, a não ser que voltem a subir para o cabo e consigam proezas ainda maiores.

Para Nicolas d’Ausonne, isto é uma questão de estratégia. E ele encontra o seu instrumento na pessoa de Marin, um monge com voz de ouro, misto de soldado, médico e por vezes burlão para as necessidades da sua causa. Ao contrário dos outros pregadores do seu tempo, que falam de um apocalipse eminente e encorajam os fiéis às mortificações mais violentas, Marin prega o amor de Deus através da alegria de viver e do bom uso dos prazeres da vida… Todos os prazeres!

Num séc. XV tão cristão, esta visão torna-se evidentemente a origem de várias desordens. É uma sucessão de furores e maravilhas, cruzadas com alcovitices e agressões, povoadas de gente brutal e de homens do clero, de monges errantes e de mulheres admiráveis, uma crónica tratada com aparato numa nuvem de palavras deslumbrantes. Tal como em “Les années-sandwiches” e “Vladimir Roubaïev”, também aqui Serge Lentz desfralda uma bandeira que ostenta as cores mais radiantes da vida.

(tradução da sinopse publicada aqui)

 

A minha opinião

 

Li e reli este livro, e agora que voltei a folheá-lo estou com vontade de o ler novamente. Tem todos os ingredientes que valorizo: um enredo original, contexto histórico, personagens cativantes, episódios rocambolescos, muito humor e muita sensibilidade. Está bem escrito, mas lê-se facilmente, quase de um só fôlego – ficamos agarrados desde as primeiras páginas, e não apetece largá-lo. Não há um único instante de monotonia nesta história que nos fala de amizade, de prazer, e de uma forma muito original de olhar para a religião. Os protagonistas são simultaneamente truculentos, amorais e adoráveis, mesmo nos seus piores momentos, e afeiçoamo-nos a eles de tal maneira que estamos o tempo todo a torcer para a que a história tenha um fim feliz.

A escrita de Serge Lentz é fluida, elegante e bem-humorada, e ele consegue imprimir ao texto a mistura adequada de gravidade e ligeireza para nos proporcionar uma leitura agradável, enquanto nos leva a reflectir de forma profunda e sensível sobre a natureza da fé.

Tendo feito a sua carreira profissional essencialmente como jornalista, Serge Lentz tem poucas obras publicadas, mas todas elas foram alvo de rasgados elogios e prémios. Infelizmente, creio que “A Estratégia do Bobo” terá sido o seu único livro publicado em português – pelo menos não encontrei mais nenhum nas minhas pesquisas na net. Mas há sempre a possibilidade de as ler em francês, para quem entender a língua.

Ou pode ser que um dia destes algum editor iluminado se lembre de publicar os seus livros no nosso país.

 

Preâmbulo para um desafio

por Ana CB, em 27.07.15

 

À meia dúzia de pessoas que de vez em quando lê o que aqui escrevo, eu me confesso: sou uma ladra.

Pior ainda: devia ter vergonha, e não tenho. Assumo publicamente esta minha fraqueza, a adicionar àquela que já conhecem e que é o facto de ser livrólica. Neste caso, uma coisa juntou-se à outra, e não consegui resistir à tentação.

Então passo a explicar. Aqui há tempos, a Magda e a M* conluiaram-se para lançarem a elas próprias o desafio de durante 45 dias publicarem, uma vez por dia, um post sobre livros, cada dia tendo um tema diferente. Claro que as segui tão religiosamente quanto possível, e convido-vos a irem lá espreitar as valiosas e sempre inspiradas opiniões destas duas navegantes do incomensurável mundo dos livros e da escrita. Foi um desafio de fôlego, que elas cumpriram heroicamente, e por isso estão de parabéns.

Quis o acaso que recentemente eu aproveitasse uns dias de férias para tentar resolver o problema do grave estado da minha biblioteca/escritório, onde ainda subsistiam vários caixotes por esvaziar, sobras da minha já não tão recente mudança de casa (dois anos e meio já é mais que tempo para ter tudo em ordem… mas ainda não tenho), e em cujas estantes os livros começavam a transbordar por causa da falta de espaço. Estantes novas compradas, foi na hora de reorganizar algumas prateleiras (tenho os livros mais ou menos agrupados por categoria) que me ocorreu, inspirada pelo exemplo das duas supracitadas meninas, desafiar-me a mim própria a fazer qualquer coisa que me levasse a revisitar alguns dos meus livros mais antigos e ao mesmo tempo tivesse alguma utilidade para quem lê. Mais ainda, que me obrigasse a escrever neste meu blog com mais frequência (a minha inconstância não tem a ver com falta de vontade nem de ideias, mas sim apenas de tempo, pior ainda porque me desdobro pelos meus outros dois blogues - o de escrita e o de viagens - e não quero abandonar nenhum deles).

E surgiu-me então esta ideia: há sempre um livro desconhecido à espera de nós. Um livro de que nunca ouvimos falar, que provavelmente não foi um best-seller, que é de um autor pouco conhecido, ou que é de um autor muito conhecido mas já “fora de moda”; um livro que não teve reedições ou não foi “entronizado” pelos críticos, mas que mesmo assim é um livro que adorei ler, que já reli, que está na lista dos meus preferidos, e que se calhar também outras pessoas gostariam de ler… se soubessem que ele existe.

Está então aqui lançado o desafio – a mim, e a quem quiser aqui dar a sua opinião. Nos próximos tempos vou tentar falar-vos, com alguma regularidade (sem promessas, porque não gosto de prometer o que não sei se vou conseguir cumprir), de alguns destes livros que têm lugar cativo na minha biblioteca e no meu coração. Para vos aguçar o apetite. Porque há muita leitura para lá dos clássicos e dos escritores “mainstream”. E porque há imensos livros que merecem uma segunda vida.