Os mais belos contos de fadas
No meu primeiro post neste blogue – e já lá vão daqui a pouco dois anos… – contei-vos que este meu gosto pelos livros e pela leitura vem de família. Tive a sorte de crescer numa casa onde os livros não eram considerados supérfluos, nem a leitura uma actividade inútil. Por isso, além das eternas bonecas e outros brinquedos e jogos, livros foram e são uma oferta recorrente na minha família, aquele tipo de prenda que sabemos que irá sempre agradar.
E é precisamente um desses livros que me ofereceram em criança que vou hoje partilhar aqui – um livro adorável, lindo, um dos que mais gostei de receber.
“Os Mais Belos Contos de Fadas” é uma antologia publicada originalmente em 1967 pelas Selecções do Reader’s Digest (com o título “World's Best Fairy Tales”), cuja versão portuguesa saiu em 1970 com tradução de Botelho da Silva.
Com uma introdução escrita por Maria Cimino, que foi bibliotecária do Central Children’s Room da Biblioteca Pública de Nova Iorque, o livro inclui 65 contos de várias origens, muitos já bem conhecidos de toda a gente e outros nem tanto. A selecção é variada e abrangente, indo desde histórias como “Sindbad, o Marinheiro” (extraída das Mil e Uma Noites), passando por “O Gato das Botas” de Charles Perrault ou “O Fato Novo do Imperador” de Hans Christian Andersen e “Hansel e Gretel” dos irmãos Grimm, até velhos contos tradicionais de vários países, como “Os Sete Simões” (Hungria), “O Meio Pintainho” (Espanha) ou “O Pequeno Polegar” (Inglaterra). E como é óbvio, não ficaram esquecidas as histórias mais famosas, como “A Gata Borralheira”, “O Capuchinho Vermelho”, “Os Três Porquinhos” ou “A Bela Adormecida”, entre tantas outras.
Além da excepcional selecção de contos, o livro tem uma maravilhosa colecção de ilustrações (uma por cada história) executadas de propósito para a edição original pelo desenhador Fritz Kredel (1900-1973).
Ali Babá e os Quarenta Ladrões
A Bela Adormecida
Branca de Neve e os Sete Anões
O Gato de Botas
O Soldadinho de Chumbo
A Sereiazinha
A Gata Borralheira
A Bela e o Monstro
O meu exemplar deste livro acusa as milhentas vezes que foi manuseado, lido e relido, e as várias mãos por que passou. Depois de fazer as minhas delícias, foi companheiro de infância da minha tia mais nova, e mais tarde leitura ao deitar do meu filho. A sua vida já longa (a caminho dos 50 anos…) nota-se na lombada meio desconjuntada, nas folhas amareladas e com manchas castanhas nalguns sítios, nos cantos puídos da capa, que nem a sobrecapa conseguiu evitar.
Depois de desaparecida a sobrecapa, há já um ror de anos, forrei-o com papel de lustro encarnado, mas até este – coitado! - já está a precisar de ser substituído. São as agruras da vida de um livro que é profundamente querido.
Entre tantos contos, é claro que gosto mais de alguns do que de outros. Curiosamente, o meu gosto não mudou muito ao longo dos anos, e os meus favoritos continuam a ser aqueles que eu preferia em miúda:
A Princesa no Monte de Vidro
Um conto de Peter C. Asejörnsen e Jorgen E. Moe, ambos noruegueses, incluído na Colectânea de Andrew Lang; uma espécie de história da Gata Borralheira em versão masculina (coincidência ou não, o protagonista chama-se Cinderlad).
Verdade, Verdadinha!
De Hans Christian Andersen, a história de como uma simples pena pode transformar-se em cinco galinhas (ou o poder do boato…).
As Doze Princesas Dançarinas
Um velho conto alemão, igualmente incluído na Colectânea de Andrew Lang, que enaltece a inteligência, a perseverança a dedicação – virtudes que são, é claro, devidamente recompensadas no final.
A Rainha das Neves
Também de Andersen, uma história sobre o poder redentor do amor.
A tradição de contar histórias é tão antiga quanto o Homem, e muitos contos populares têm origens tão remotas quanto desconhecidas. Embora muitos deles não se destinassem às crianças, a natureza sobrenatural e fantasiosa da maioria destas histórias que foram passando oralmente de geração para geração, e sucessivamente modificadas e adaptadas (porque quem conta um conto, acrescenta um ponto) de acordo com as tradições de cada lugar e cada povo, tornaram-nas especialmente apetecíveis para os espíritos mais jovens, acumulando as funções de entretenimento e formação do carácter.
Hoje em dia as nossas crianças (embora infelizmente ainda não todas as crianças do mundo) têm ao seu dispor uma panóplia muito alargada de leituras de todos os géneros e para todas as idades, em livros que na sua maioria vivem tanto da história como das suas ilustrações. O gosto pela leitura cria-se de pequenino, e nesse aspecto ser criança, agora, numa sociedade que incentive e alimente este gosto, é inquestionavelmente uma felicidade (e uma sorte), tanta é a diversidade da oferta.
Mas o fascínio dos contos de fadas permanece imutável. Provam-no o sucesso das recorrentes adaptações cinematográficas de histórias antigas, e o carácter igualmente “mágico” de novas histórias que vão sendo escritas (como a saga Harry Potter, por exemplo). Por isso mesmo, mantêm-se actuais as palavras com que Maria Cimino termina a sua apresentação deste livro, falando das histórias nele contadas:
“Há-as para todos os gostos e sempre nas melhores versões, tanto para ler como para ouvir ler em voz alta. De uma forma ou de outra, as crianças assimilarão alguma sabedoria de outros tempos, quando o sentimento do maravilhoso era ainda uma realidade viva.”
E é também por isso, para não perder este sentimento, que eu regresso de tempos a tempos a este livro. Para não me esquecer da criança que fui, e que não quero nunca deixar completamente de ser.