Falando de filmes (só para variar)
Pediu-me a M* aqui que dissesse quais os 15 filmes que mais me marcaram. Só que eu já sabia que iria ser uma tarefa impossível, muito mais difícil do que quando fiz a lista dos meus livros favoritos (que está aqui). Adoro cinema, mas a relação que tenho com os filmes é muito mais leve do que a que tenho com os livros. A um livro dedico mais tempo, atenção e energia do que a um filme, porque ler exige mais de nós do que simplesmente olhar para uma tela ou um ecrã. Quando leio um livro sou eu que construo as cenas na minha cabeça, tenho de usar a imaginação. Já quando vejo um filme sou mais passiva, aceito o que me entra pelos olhos e ouvidos adentro – posso ter de raciocinar para compreender o que me está a ser mostrado, mas não há grande espaço para a imaginação. A juntar a tudo isto, tenho uma excelente memória visual, por isso não é muito habitual em mim querer mesmo rever algum filme, a não ser passado já bastante tempo, normalmente anos, quando já não me lembro bem de certas partes. E só naqueles casos em que gostei realmente do filme, porque dos que não gosto, ou que me são indiferentes, acabo muitas vezes por esquecer quase tudo.
Mas adiante. Comecei por fazer uma lista daqueles de que me lembro ter gostado muito – e quando dei por mim já ia em 80, mesmo ignorando alguns que são óbvios (quem não gosta dos filmes da saga Indiana Jones, do Senhor dos Anéis, ou do ET, só para dar alguns exemplos?) e com tendência para aumentar. Depois fui escolhendo aqueles que por um motivo ou outro causaram em mim maior reacção, a ponto de nunca mais me terem saído da memória – e alguns vi-os pela primeira vez quando era bastante novinha. Mesmo assim, a lista ainda era enorme, mas com muito esforço lá consegui reduzi-la a 20 títulos, e menos que isto é realmente impossível.
Sem ordem de preferência (optei pela alfabética), aqui estão eles, cada um com um pequeno e muito pessoal comentário:
A imperatriz vermelha (The scarlet empress), de Josef von Sternberg, 1934
A história da imperatriz russa Catarina, a Grande, interpretada por Marlene Dietrich no seu melhor. Um clássico, embora não muito conhecido.
A mulher que viveu duas vezes (Vertigo), de Alfred Hitchcock, 1958
Adoro Hitchcock, um verdadeiro mago do suspense. A célebre cena da torre do sino é verdadeiramente antológica. Como na maior parte dos filmes daquela época, as interpretações dos actores são um pouco exageradas, mas isso dá-lhe um certo charme.
A origem (Inception), de Christopher Nolan, 2010
Um filme que parece uma matrioshka, com uma história dentro de uma história dentro de uma história, a ponto de às vezes não sabermos bem onde estamos. Tenho de o rever, para perceber se o impacto vai ser o mesmo.
A promessa (Wu Ji), de Chen Kaige, 2005
Filme chinês de produção mista, é visualmente fabuloso. Uma mistura de tragédia, romance, fantasia e acção, bem ao gosto oriental, com uma cinematografia irrepreensível. A crítica não foi simpática com o filme, sobretudo por causa do argumento, mas a realidade é que ele é mesmo um festim para os olhos.
Apocalypse now, de Francis Ford Coppola, 1979
A primeira vez que vi este filme, no cinema (visto na tv não é bem a mesma coisa…), só saí já depois de terminado o genérico, e completamente mesmerizada. Parece ser sobre guerra, mas é muito mais do que isso.
Assalto à 13ª esquadra (Assault on Precinct 13), de John Carpenter, 1976
É um dos filmes menos conhecidos de Carpenter, mas sem dúvida o meu preferido acima de todos os outros que realizou. Suspense em doses industriais e uma realização contida mas genial, cheia de pormenores, que fazem com que este filme passado num espaço fechado seja tudo menos maçador. E bastante melhor do que o remake de 2005 de Jean-François Richet.
Boneca de luxo (Breakfast at Tiffany’s), de Blake Edwards, 1961
Este é daqueles em que não consigo evitar chorar sempre que o vejo. Apesar de ser um romance levezinho, é um clássico, e o tema musical (Moon River) ganhou um Óscar. Audrey Hepburn está excepcional e só pelo seu talento o filme já valeria a pena (embora a carinha laroca de George Peppard também não seja de ignorar, claro…).
Depois do ódio (Monster’s ball), de Marc Forster, 2001
Um drama pesado mas extremamente comovente sobre perdas e acasos da vida, e com fantásticas interpretações (Halle Berry ganhou um Óscar por este filme).
Eduardo Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands), de Tim Burton, 1990
Enternecedor, simbólico e esteticamente muito agradável, além de brilhantemente interpretado, marcou o início dos “mitos” Johnny Depp e Tim Burton.
Forrest Gump, de Robert Zemeckis, 1994
Não é possível ficar indiferente a este filme sobre uma pessoa que é, precisamente, diferente. Tom Hanks, como sempre, está genial.
Gravity, de Alfonso Cuarón, 2013
Um trabalho fantástico a vários níveis, sobretudo pela magnífica actuação de Sandra Bullock, pela excepcional banda sonora, pela montagem e pela realização, que conseguem transformar num grande filme uma história passada em ambiente quase fechado e que gira à volta de praticamente uma única personagem. Uma ode à coragem, à resistência e à superação dos limites.
O amor é um lugar estranho (Lost in translation), de Sofia Coppola, 2003
É impossível não sentir empatia com as personagens principais deste filme, apanhadas numa espécie de “cápsula espácio-temporal” (metaforicamente falando, claro), afectadas pelo jet lag e solitárias no meio da multidão. Porque o amor nasce e existe de variadas formas.
O estranho mundo de Jack (The nightmare before Christmas), de Henry Selick, 1993
Na altura em que foi lançado, foi uma pedrada no charco no cinema de animação. Não há como não adorar Jack e este argumento adaptado por Tim Burton, tão soturno e ao mesmo tempo tão profundamente sensível.
O mundo a seus pés (Citizen Kane), de Orson Welles, 1941
Ainda considerado como o maior/melhor filme (americano) de sempre, e livremente inspirado na vida de William Randolph Hearst, rompeu com muitos dos estereótipos habituais no cinema hollywoodiano da época. Imprescindível ver.
Os cavalos também se abatem (They shoot horses, don’t they?), de Sydney Pollack, 1969
Um drama passado na época da Depressão, quando as pessoas lutavam pela sua sobrevivência até às últimas consequências, sujeitando-se a tudo e sendo facilmente exploradas. Triste, angustiante até, leva-nos a reflectir sobre grandes questões que continuam actuais nos dias de hoje. Com um excelente elenco, encabeçado por Jane Fonda.
Os condenados de Shawshank (The Shawshank redemption), de Frank Darabont, 1994
Mais um daqueles filmes que consigo ver vezes sem conta, e sempre com o mesmo prazer. Apesar de os protagonistas serem reclusos e não tão “santos” quanto isso, passamos o filme todo a torcer por eles. Um argumento genial (um dos escritores foi o imaginativo Stephen King) e óptimas interpretações de Morgan Freeman e Tim Robbins. Também considerado como um dos melhores filmes de sempre.
Os inadaptados (The misfits), de John Huston, 1961
Drama escrito por Arthur Miller, este filme foi por coincidência o último tanto para Clark Gable como para Marilyn Monroe, o par romântico protagonista. Montgomery Clift, num excelente papel secundário, morreria também poucos anos mais tarde. Quase como os actores que lhes deram vida, as personagens são pessoas mal ajustadas à sociedade ou em vias de extinção, à deriva e em luta com os seus próprios fantasmas.
Os suspeitos do costume (The usual suspects), de Bryan Singer, 1995
Um elenco de luxo, uma história diferente entre o policial e o drama, e um final tão inesperado que nos deixa de boca aberta.
Sete pecados mortais (Se7en), de David Fincher, 1995
Entre o thriller e o film noir, com um argumento pesado mas muito bem concebido, desenvolvido num “crescendo” incomodativo que nos faz questionarmo-nos: Até onde consegue ir a maldade humana? E até que ponto conseguimos resistir ao sofrimento (físico ou psicológico) antes de quebrarmos?
Tudo sobre a minha mãe (Todo sobre mi madre), de Pedro Almodóvar, 1999
Não tenho vergonha de confessar que choro desalmadamente sempre que vejo este filme. A maternidade, a morte e a vida, os acontecimentos que parecem predestinados, a redenção, os círculos da vida que se completam, está tudo aqui, contado de forma crua como é hábito em Almodóvar e com a também habitual sua galeria de personagens que saem do comum. Com algumas das suas actrizes preferidas, foi a rampa de lançamento de Penélope Cruz.