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Gene de traça

Livros e etc.

Entre aspas #7 Thea Dorn

por Ana CB, em 26.08.16

 

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Entre aspas #6 André Maurois

por Ana CB, em 24.08.16

 

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História ou história?

por Ana CB, em 22.08.16

 

O SAMURAI NEGRO

João Paulo Oliveira e Costa

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Título: O Samurai Negro

Autor: João Paulo Oliveira e Costa

Ano de lançamento: 2016

 

Editora: Temas e Debates

Publicação: 1ª edição – Maio 2016

Número de páginas: 472

Revisão: Alda Mondas

 

As minhas expectativas em relação a este livro eram muito altas. Por várias razões, sendo a principal o facto de João Paulo Oliveira e Costa ser o autor de “O Império dos Pardais”, um dos meus livros preferidos. E também porque é sobre o Japão. E é um romance histórico, e promete ser o primeiro de uma trilogia. Enfim, estava plenamente preparada para gostar imenso de “O Samurai Negro”, porque tem todos os ingredientes necessários para uma boa história, e eu gosto de uma boa história.

 

Mas a verdade é que este livro não me seduziu como eu estava à espera.

 

João Paulo Oliveira e Costa é um historiador. Que escreve bem. Escreve sobre aquilo que conhece e estudou profundamente, e isso nota-se na forma como entrança o enredo ficcionado com os factos históricos. Só que n’“O Samurai Negro” dá nitidamente primazia à História sobre a história, e na minha opinião isso acaba por ser prejudicial para este livro.

 

O enredo gira à volta da presença portuguesa no Japão, na segunda metade do séc. XVI, a fase áurea em que Portugal era praticamente dono de meio mundo e ainda não suspeitávamos que a nossa independência iria estar perdida durante 60 anos. Em Portugal reinava D.Sebastião e os jesuítas eram o motor principal da expansão do cristianismo no planeta. No Japão, os grandes senhores guerreavam entre si pelo poder, e a nação era terra fértil para o comércio de armas e tudo o resto que os portugueses encontravam para obter lucro. À cidade costeira de Nagasáqui, no sudoeste do Japão (sim, aquela da bomba atómica na 2ª Guerra Mundial), chegam um príncipe congolês, um luso-brasileiro sobrinho de um pirata e um italiano enviado sob disfarce pelo papado de Roma. Aí vão cruzar-se com uma japonesa cristã, padres de várias origens, um chinês misterioso e uma variedade de outras personagens, umas fictícias, outras que existiram realmente e das quais reza a História. Ao longo dos quinze anos que este livro abarca sucedem-se peripécias várias, episódios imaginados são intercalados com factos verídicos, há mistérios e desencontros, amores e ciúmes, batalhas e raptos, mortes e nascimentos - um fluxo constante de informação da mais variada espécie que atravessa todo o livro.

 

E aqui está o primeiro e principal motivo que me incomodou: há demasiada confusão. A história salta incessantemente de umas personagens para as outras e, ainda por cima, no espaço e no tempo. Nada demais, muitos livros o fazem. Só que aqui os saltos são grandes, bruscos e por vezes quase que forçados, parece que fica sempre qualquer coisa incompleta, qualquer coisa que faz falta para dar mais corpo à história. É tudo aflorado como que ao de leve, as descrições são curtas (é verdade que descrições exageradamente longas são fastidiosas, mas eu preciso de cores e cheiros e texturas para poder “visualizar” os cenários de uma história), e em todo o livro parece que o autor está mais preocupado em nos falar dos factos históricos do que em nos contar “a” história que deveria ser, à partida, o elemento principal. Há um ligeiro esforço de espalhar alguns “mistérios” pelo enredo, tentando assim despertar a curiosidade e o interesse de quem lê, mas o resultado acaba por não surtir o efeito pretendido – ou pelo menos foi que o que sucedeu comigo. E com tudo isto, as personagens supostamente principais (entre as inúmeras que povoam o livro, tantas que às vezes me perdia) acabam por ter pouca profundidade, porque a história se dispersa e apenas nos vai falando delas quase “en passant”.

 

Depois há a questão do modo de falar das personagens. João Paulo Oliveira e Costa optou por as pôr a falar de uma forma algo arcaica, e isso nota-se bastante porque os diálogos ocupam grande parte do livro. Enquanto n’“O Império dos Pardais” utilizou esse recurso na medida certa, neste livro – quanto a mim – exagerou. A juntar a isto, usa também certas expressões japonesas com alguma frequência, e se uma ou outra são facilmente compreensíveis, porque já as conhecemos ou porque nos são explicadas na própria narração, outras nem tanto, e ter de puxar pela memória para tentar relembrar o seu significado ou perceber a que se referem acaba por quebrar a fluidez da leitura. E a propósito disto, faz falta no livro um glossário que explique estes e outros termos utilizados na narrativa, assim como um esboço do mapa do Japão na época em que se passa a história e – isso seria a cereja no topo do bolo – um índice cronológico dos factos históricos mais importantes durante os anos abrangidos pelo livro, até mesmo para termos melhor noção do que é verídico e do que é recriado ou inventado.

 

Isto não quer dizer que tenha detestado o livro, longe disso. Está bem escrito q.b. e tem interesse, sobretudo porque nos fala de uma fase menos conhecida e divulgada da nossa (e não só) História, redimindo um pouco a imagem algo denegrida que temos dos jesuítas e da sua influência no mundo e mostrando-nos como podem existir pontes entre pessoas e ideias que à partida parecem ser antagonistas. É um livro que enriqueceu mais um bocadinho o meu conhecimento, e isso é sempre um ponto positivo.

 

Gostei do livro, mas queria mesmo muito ter gostado mais. Queria ter gostado imenso. Queria ter adorado. Só que não adorei. Só gostei um bocadinho, e isso desilude-me a ponto de não saber se vou querer ler os outros dois que ainda hão-de sair.

 

Entre aspas #5 Yasunari Kawabata

por Ana CB, em 18.08.16

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Entre aspas #4 William Trevor

por Ana CB, em 16.08.16

 

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Stephen King

por Ana CB, em 01.08.16

 

Stephen King é provavelmente o mais prolífico escritor de histórias de terror/ficção fantástica de sempre. Livros publicados são mais de setenta (alguns sob o pseudónimo Richard Bachman), e entre contos e argumentos para cinema e televisão tem mais umas quantas dezenas de obras. Segundo a Wikipedia, é o nono autor mais traduzido em todo o mundo, com uma estimativa de 350 milhões de cópias vendidas em 40 países.

 

Um fenómeno de popularidade, cujos primeiros sucessos foram “Carrie” e “The Shining” (“A Luz”, na tradução portuguesa), prontamente adaptados ao cinema e hoje já com o estatuto de filmes de culto.

 

Fui uma adolescente emotiva e facilmente impressionável, e por isso não particularmente fã de filmes deste tipo; consequentemente, não fiz questão de os ver quando estrearam em Portugal. Mas mesmo quando os vi em adulta (e gostei, claro!), o nome de Stephen King continuou a passar-me ao lado. Creio que só com “Misery – O capítulo final”, um filme muito mais dentro das minhas preferências, despertei para o fenómeno Stephen King.

 

E depois, um belo dia, o Círculo de Leitores (ah, que saudades de folhear a revista!) decidiu lançar uma colecção com as suas obras, e foi a rendição total: fiquei fã dos livros logo a partir da primeira leitura. Porque se os filmes são bons, os livros são ainda melhores.

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Resumindo: tenho 21 – sim, vinte e um – livros de Stephen King. Há já muito tempo que não leio nada dele, mas em Fevereiro vai estrear no cinema “A Torre Negra” e está a ser gerada alguma expectativa em torno do filme – que ainda por cima tem o (fantástico, carismático, e sei lá mais o quê) Idris Elba como um dos protagonistas.

 

O mais espantoso em Stephen King é que não se repete. Apesar de alguns pontos de contacto aqui e ali, cada um dos seus livros ou contos é uma novidade, uma história diferente, um outro ambiente fantástico; a sua imaginação não tem limites. É certo que “Christine” e “Buick 8” têm como protagonista um carro, que “Desperation” e “Os Reguladores” (este assinado por Richard Bachman) têm um pano de fundo semelhante, e existe uma ligação assumida entre “O Jogo de Gerald” e “Eclipse Total”. Mas o enredo é desenvolvido de maneira diversa em cada livro, e King consegue sempre surpreender-me. Assusta-me, mantém-me em suspenso, enerva-me, irrita-me, enoja-me. Às vezes violento, outras subtil, por vezes sensível, mexe sempre comigo.

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É claro que não gostei de igual modo de todos estes livros de Stephen King que já li. Tenho os meus preferidos, e não me perguntem porque é que gostei mais destes do que dos outros, porque seria a mesma coisa que perguntarem-me porque é que gosto mais de azul do que de roxo. Aqui está a lista, com as respectivas sinopses.*

 

OS OLHOS DO DRAGÃO

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Dentro da diversidade dos livros de King, este é aquele que sai ainda mais fora do estilo habitual do autor. Claro que mete magia e sobrenatural, mas é passado em ambiente medieval e a história está escrita um bocado à maneira de um conto de fadas. Provavelmente destinado a um público mais adolescente, a verdade é que li-o de um fôlego, e reli-o mais tarde, e vou voltar a lê-lo.

 

Sinopse: Uma história fantástica de heróis e aventuras, de dragões, príncipes e feiticeiros malévolos. O reino de Delain vive momentos de grande turbulência porque o seu rei Roland morreu e Peter, o príncipe herdeiro, tem de lutar para conseguir o que é seu por direito. Tem contra si o terrível feiticeiro Flagg, que quer pôr no trono o irmão de Peter, Thomas, a quem consegue manipular mais facilmente. Mas claro que, como todos os planos, este tem as suas falhas… por exemplo, o terrível segredo de Thomas.

 

INSÓNIA

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É um livro um bocado viciante, senti-me em “banho-maria” durante algum tempo e ansiosa por perceber o que se passava realmente, e depois quando comecei a apanhar o fio à meada não conseguia largar o livro, ansiosa por saber o desfecho.

Sinopse: Ralph Roberts tem um problema: nos últimos dias não tem dormido muito bem. Na verdade, não tem dormido nada. Depois de sofrer vários traumas na sequência da morte da mulher com um tumor cerebral, a insónia que gradualmente o vai invadindo é o pior de tudo. Dormindo cada vez menos horas, Ralph instala-se numa cadeira diante da janela e observa quem passa para matar as horas. Ao fim de algum tempo apercebe- se de que todos os seres humanos possuem um fio de vida no mundo. E se esse fio fosse cortado abruptamente, como aconteceu à sua mulher?

 

OS TOMMYKNOCKERS

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São 777 páginas com uma história do outro mundo, certamente um dos seus maiores livros. Angustiante, por vezes até agoniante, mas estranhamente fascinante.

Sinopse: Alguma coisa está a acontecer na pequena e idílica cidade de Haven, no Maine, onde vive Bobbi Anderson. Alguma coisa que deu a cada homem, mulher e criança da cidade poderes muito maiores do que os de um comum mortal. Alguma coisa que transformou a cidade numa armadilha mortal para todos os forasteiros. Alguma coisa que veio de um objecto de metal, enterrado durante milénios, que Bobbi encontrou acidentalmente. Não é como se Bobbi e a boa gente de Haven tivessem vendido as suas almas para colherem as recompensas do demónio mais mortal deste lado do inferno. É mais como que uma espécie de possessão diabólica… uma invasão do corpo e da alma – e da mente…

 

À ESPERA DE UM MILAGRE

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O filme – realizado por Frank Darabont e com Tom Hanks como protagonista – é muito bom, e o livro consegue ser talvez ainda melhor, porque nos dá mais pormenores e nos envolve mais na história, lançando pistas a conta-gotas até descobrirmos a verdade.

Sinopse: Na penitenciária de Cold Mountain, ao longo da solitária fila de celas conhecida como a “Milha Verde”, assassinos tão depravados como o psicopático "Billy the Kid" Wharton e o possuído Eduard Delacroix aguardam que a morte chegue, quando forem amarrados à "Old Sparky". Aqui, são vigiados por guardas tão correctos como Paul Edgecombe, ou tão sádicos como Percy Wetmore. Mas bons ou maus, inocentes ou culpados, nenhum cometeu um crime tão brutal quanto o novo prisioneiro, John Coffey, condenado à morte por ter violado e matado duas meninas. Será Coffey um diabo em forma de gente? Ou será que é um tipo de ser humano muito, muito diferente?

 

A RAPARIGA QUE ADORAVA TOM GORDON

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Há muitos miúdos e adolescentes nas histórias de Stephen King. Por vezes sãos os “maus da fita”, outras vezes são heróis. Mesmo quando a imagem que o escritor nos transmite é mais “normal”, como no caso da protagonista deste livro, há sempre um volte-face que nos surpreende.

Sinopse: Trisha McFarland, de nove anos, afasta-se do caminho marcado quando ela, o seu irmão e a sua mãe recentemente divorciada fazem um passeio ao longo de um ramal do Trilho dos Apalaches. Perdida durante dias, afastando-se cada vez mais, Trisha apenas tem o seu rádio portátil para a confortar. Grande adepta de Tom Gordon, um lançador dos Boston Red Sox, escuta os jogos de basebol e fantasia que o seu herói irá salvá-la. No entanto, a natureza não é o seu único adversário – algo perigoso pode estar na pista de Trisha através da floresta escura.

 

MISERY

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Mais um livro de King que serviu de base a um excelente filme. E mais uma vez o livro consegue ser ainda mais envolvente e assustador.

Sinopse: Paul Sheldon é um famoso escritor de romances cor-de-rosa, tornado célebre pela personagem principal das suas obras, Misery Chastain. Porém, Sheldon entendeu que estava na hora de virar a página e decidiu “matar” Misery. É então que sofre um terrível acidente de viação e é socorrido por Annie Wilkes, uma ex-enfermeira que o leva para sua casa para o tratar. O que Paul não sabe é que Annie, a sua salvadora, é também a sua maior fã, a mais fanática e obcecada de todas — e está furiosa com a morte de Misery. Ferido e incapaz de andar, totalmente à mercê de Annie, Paul é obrigado a escrever um novo livro para “ressuscitar” Misery, como uma Xerazade dos tempos modernos nas mãos de uma psicopata tresloucada que há muito deixou de distinguir a realidade da ficção. Repleto de complexos jogos psicológicos entre refém e captor, "Misery" é uma obra de suspense e terror no seu estado mais puro.

 

OS LANGOLIERS (incluído no livro “MEIA NOITE E DOIS”)

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Um conto fascinantemente estranho e opressivo, e Stephen King mais uma vez conseguiu colocar-me dentro do ambiente da história, como se eu fosse uma das personagens.

Sinopse: Num voo nocturno de Los Angeles para Boston, apenas onze passageiros sobrevivem – mas a aterragem num mundo que está morto faz com que desejem não ter sobrevivido.

 

Além de ter uma imaginação delirante, Stephen King escreve bem, sabe descrever os ambientes, as personagens, contar a história de forma fluida sem maçar, manter o interesse. É distracção garantida.

 

 

Ainda não leram nada dele? Estão a torcer o nariz a este tipo de leitura? Então experimentem… e depois digam lá se eu não tenho razão.

 

 

* Sinopses retiradas dos sites de vendas de livros online ou do Goodreads.

 

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25 livros para ler antes de morrer

por Ana CB, em 28.07.16

 

A Powell’s Books é uma cadeia de livrarias americana fundada em 1971 e baseada em Portland, no Oregon, que reivindica para si o estatuto de maior livraria independente do mundo (de livros novos e usados). No seu acervo tem mais de quatro milhões de livros, entre novos, usados, raros e fora de catálogo, e são comprados cerca de 3000 livros usados por dia.

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Divulgaram agora a sua mais recente lista de obras de leitura indispensável (“25 Books to Read Before You Die: World Edition”), com um texto introdutório excelente que traduzo/transcrevo parcialmente:

 

Quando se trata de arte que expande o nosso mundo, nada se compara à literatura. A experiência imersiva oferecida pelos livros transporta os leitores não só para outros lugares, como também para outros contextos mentais. Este ano (…) procurámos destacar literatura que expõe os leitores a culturas e modos de vida que podem diferir do seu. Esperamos inspirar as pessoas a procurarem leituras fora da sua zona de conforto – e os 25 livros desta lista valem bem a experiência. São obras vitais que falam não só para um público próximo, mas para todo o mundo em geral.

 

E a lista é esta:

 

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MEIO SOL AMARELO, de Chimamanda Ngozi Adichie (Nigéria) – a guerra do Biafra, na Nigéria, como pando de fundo para este romance, sobre o qual já falei aqui.

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RASHOMON E OUTRAS HISTÓRIAS, de Ryunosuke Akutagawa (Japão) – no Japão, Akutagawa é considerado o pai dos contos modernos, e é uma figura de culto.

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VOZES DE CHERNOBYL, de Svetlana Alexievich (Bielorrússia) – histórias contadas em primeira mão por quem viveu a maior tragédia nuclear ocorrida fora de um contexto bélico, o lado humano de um desastre já quase esquecido, mas cujos efeitos ainda se fazem sentir.

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GABRIELA, CRAVO E CANELA, de Jorge Amado (Brasil) – uma história rica em personagens e enredo, que mistura romance, infidelidade, paixão, morte, traição e humor, uma sátira social e política com laivos de regionalismo; uma das histórias mais deliciosas escritas pelo grande Jorge Amado.

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MARGARITA E O MESTRE, de Mikhail Bulgakov (Rússia) a Powell’s defende que se apenas lermos um romance russo em toda a vida, que seja este. A sinopse do livro diz que “O romance é composto por duas narrativas ligadas entre si — uma passa-se na Moscovo dos anos 30 e a outra na Jerusalém antiga. As personagens são estranhas, complexas, ambíguas e algumas delas sobrenaturais”.

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AS CIDADES INVISÍVEIS, de Italo Calvino (Itália) – Marco Polo e Kublai Khan sentam-se à noite no jardim, e Marco Polo distrai o imperador com histórias das cidades por onde passou nas suas viagens.

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AMOR NUMA CIDADE CAÍDA (LOVE IN A FALLEN CITY), de Eileen Chang (China) – ainda sem edição portuguesa, este livro é composto por seis histórias que combinam romance e desejo, enganos e decepções, passadas nos anos 40 em Hong Kong e Xangai.

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A VIDA E O TEMPO DE MICHAEL K, de J.M. Coetzee (África do Sul) – também com uma guerra como pano de fundo, a história centra-se na figura de um homem que empreende uma viagem que irá transformar-se num teste de resistência e de afirmação do espírito humano.

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O JOGO DO MUNDO – RAYUELA, de Julio Cortázar (Argentina) – diz quem leu o livro que ele é “visceral, uma experiência arquitectónica” e “frustrante e necessário e verdadeiro”. Duas histórias simétricas, um livro que se lê aos saltos, onde supostamente muitos capítulos são “dispensáveis”.

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A AMIGA GENIAL, de Elena Ferrante (Itália) – uma história sobre a amizade, as classes sociais, o feminismo, a política a lealdade, a maternidade; ou, resumindo, sobre a complexidade da vida no feminino.

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ESPELHOS - UMA HISTÓRIA QUASE UNIVERSAL, de Eduardo Galeano (Uruguai) – também ainda sem edição portuguesa (apenas brasileira), este livro agrupa quase 600 histórias curtas onde Galeano narra de forma poética 5000 anos da História da humanidade do ponto de vista dos desfavorecidos, aqueles que não são lembrados pela História oficial.

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UMA SOLIDÃO DEMASIADO RUIDOSA, de Bohumil Hrabal (República Checa) – conta a história de um homem que resgata livros raros e outros textos condenados à destruição; uma ode ao poder dos livros e ao amor pela palavra escrita.

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O POVO DOS OSSOS (THE BONE PEOPLE), de Keri Hulme (Nova Zelândia) – mais um livro ainda não traduzido para português; na sinopse diz-se que “Keri Hulme criou aquilo que é ao mesmo tempo um mistério, uma história de amor e uma ambiciosa exploração da zona em que a Nova Zelândia maori e a europeia se encontram, embatem e por vezes fundem”.

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O LIVRO DO VERÃO (THE SUMMER BOOK), de Tove Jansson (Finlândia) – da escritora mais conhecida por ser a criadora dos livros infantis que contam as histórias dos Mumins, este livro para adultos (que também não tem edição portuguesa) segue uma avó e a sua neta, que acabou de ficar órfã, durante um Verão passado no arquipélago finlandês, em que conversam sobre a vida e os seus mistérios.

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ANNIE JOHN, de Jamaica Kincaid (Antigua) – ainda sem publicação em português, este livro centra-se na topografia emocional das relações mãe-filha e na perda de inocência quando se deixa para trás a infância.

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GENTE INDEPENDENTE, de Halldór Laxness (Islândia) – considerado como um dos grandes romances do séc. XX, este livro do Nobel da Literatura islandês narra a história de um homem forte e determinado que vive quase em isolamento e não confia em ninguém a não ser em si próprio.

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PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM, de Clarice Lispector (Brasil) – o primeiro romance da escritora, publicado quando tinha pouco mais de vinte anos, fala-nos de Joana e das inseguranças e incertezas próprias da entrada na idade adulta, da ténue linha que separa a afirmação da identidade e a sua perda.

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CORAÇÃO TÃO BRANCO, de Javier Marías (Espanha) – as relações interpessoais examinadas à lupa, com os seus segredos, as suas omissões, as suspeitas, as tentações; até que ponto é possível conhecermos verdadeiramente uma pessoa?

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UM DELICADO EQUILÍBRIO (A FINE BALANCE), de Rohinton Mistry (Índia) – uma história épica com um sensacional conjunto de personagens, onde é pintado um retrato vibrante da Índia e das suas gentes em meados dos anos 70.

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CIDADES DE SAL (CITIES OF SALT), de Abdelrahman Munif (Arábia Saudita) – uma poderosa ficção política (também ainda não traduzido para o nosso país) que gira à volta da descoberta de petróleo num oásis pobre do Golfo Pérsico; banido em vários países árabes, incluindo a própria Arábia Saudita.

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EM BUSCA DO CARNEIRO SELVAGEM, de Haruki Murakami (Japão) – uma tarefa absurda é o mote para Murakami tecer uma história onde o surreal se mistura com comentários sobre a política, a filosofia e a modernidade.

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A VIDA MODO DE USAR, de Georges Perec (França) – diz o comentador da Powell’s que neste livro, o autor “desconstrói as vidas num bloco de apartamentos ficcionado em Paris num determinado momento em 1975. O resultado é uma tapeçaria de histórias entretecidas, que são alternadamente divertidas e tristes, e que têm como origem os maiores constrangimentos de escrita esotéricos que é possível imaginar”.

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ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, de José Saramago (Portugal) – do nosso Nobel da Literatura, uma história que disseca os comportamentos humanos em tempos de catástrofe e nos mostra até que ponto somos capazes de esticar os nossos limites para sobreviver ao caos.

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A RUA DOS CROCODILOS E OUTRAS HISTÓRIAS, de Bruno Schulz (Polónia) – também ainda sem tradução portuguesa, este livro do grande escritor e artista polaco que morreu às mãos dos nazis é um hino à imaginação, uma obra que navega entre a realidade e a ilusão, cheia de frases poéticas plenas de detalhes sensoriais.

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OS ANÉIS DE SATURNO, de W. G. Sebald (Alemanha) – um narrador sem nome passeia pelo litoral inglês, e acompanhamos as suas meditações sobre a natureza, as suas memórias, a criação e a destruição, o espírito humano.

 

Concorde-se ou não com as escolhas incluídas nestas listas regularmente divulgadas pelos vários protagonistas da indústria literária, a verdade é que elas têm pelo menos a utilidade de nos despertar a curiosidade em relação a livros e autores que nem sempre são tão divulgados ou conhecidos como provavelmente o merecem – e a prova disso é o facto de vários destes livros ainda não terem sequer sido publicados na nossa língua.

 

Já li alguns destes livros, outros estão na minha lista TBR. E as vossas opiniões serão bem vindas.

 

 

 

Uma matrioska na montanha-russa

por Ana CB, em 23.07.16

 

A VERDADE SOBRE O CASO HARRY QUEBERT

Joël Dicker

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Título: A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert

Título original: La vérité sur l’affaire Harry Quebert

Autor: Joël Dicker

Ano de lançamento: 2012

 

Editora: Alfaguara

Publicação: 1ª edição – Novembro 2015

Número de páginas: 696

Tradução: Isabel St. Aubyn

Revisão: Cristina Correia, Eurídice Gomes e Manuel Eugénio Fernandes

 

 

Não há muitos livros de 700 páginas em caracteres de dimensão reduzida que actualmente eu consiga ler em 3 dias e pouco – sendo que um desses dias foi um dia útil, ou seja, estive a maior parte do dia a trabalhar. Mas foi o que aconteceu com este livro. “Viciante” é o adjectivo que mais ouvi quando me falaram dele, e é absolutamente adequado. Mas não chega para o definir.

 

Aliás, definir este livro não é tarefa linear. À primeira vista classifica-se como um policial – afinal, o enredo gira todo à volta do mistério do desaparecimento/morte de uma adolescente, ocorrido nos anos 70, e a pergunta-chave que queremos ver respondida é mesmo: afinal, quem matou Nola Kellergan? Mas à medida que fui avançando na leitura comecei a encontrar mais “sumo” na história.

 

Em primeiro lugar, o livro fala-nos também da escrita e do ofício de escritor. No início de cada capítulo encontramos uma espécie de tutorial para escrever uma história que agarre os leitores, que seja interessante, truques e métodos para que um livro tenha sucesso. E todos eles estão utilizados inteligentemente pelo próprio Joël Dicker neste “A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert” – a prova de que funcionam é o sucesso do livro. Estes conselhos são dados por um dos actores principais da história, o escritor/professor Harry Quebert, ao narrador principal da acção, o seu ex-aluno e também escritor Marcus Goldman. A relação entre eles ilustra em certa medida (com as devidas diferenças) o mito de Pigmalião, com o professor a “esculpir” o talento bruto que consegue ver no seu aluno, e que é também um outro aspecto interessante da história.

 

Em segundo lugar, este livro é no fundo um romance. A história de um amor quase impossível, com laivos de “Lolita”, em que um homem mais velho se apaixona por uma adolescente miúda e vice-versa. E várias outras histórias de amor e desamor emaranhadas na principal, em que A é amada por B mas ama C, que ama D, que é amada por E… tudo isto misturado num cocktail que ainda tem como ingredientes inúmeros outros pequenos dramas pessoais, segredos escondidos atrás de estores venezianos que se vão entreabrindo lentamente, revelados a conta-gotas, como convém (para manter o interesse) – pois nada do que parece é, e o pano de fundo da história é uma teia de enganos. E os heróis têm todos pés de barro. Tal como nós.

 

Mas uma teia bem urdida, é o que vos digo, pois no final tudo se encaixa. Ao longo da leitura fui compondo teorias umas atrás das outras, arranjando explicações possíveis para este ou aquele facto, tentando perceber o porquê de algumas incongruências… Trabalho vão. Se acertei nalguns pormenores, no geral fiquei muito aquém da explicação que só nos é dada mesmo nas últimas páginas, depois de vários falsos finais – sempre seguidos de mais uma reviravolta. Este livro parece uma matrioska às voltas numa montanha-russa. Com loops e tudo.

 

A verdade é que há já bastante tempo não me acontecia ser acometida por esta febre de ler um livro quase ininterruptamente. Não é um “livrão”, não é uma obra-prima da literatura ou material para um Nobel – mas é um livro excelente, entretenimento puro, bem concebido, bem escrito, e eu gostei muito, mesmo muito de o ler. Um livro aparentemente simples, mas que de simples afinal não tem nada.

 

Uma pedrada no charco da literatura moderna. Leiam e depois digam-me se não concordam.

 

 

O fantástico mundo dos livros

por Ana CB, em 17.06.16

 

A BIBLIOTECA

Zoran Živković

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Título: A Biblioteca

Autor: Zoran Živković

Ano de lançamento: 2002

 

Editora: Cavalo de Ferro

Publicação: 3ª edição – Janeiro 2015

Número de páginas: 104

Tradução: Aridjana Medvedeć

Revisão: Tiago Marques

 

 

“A Biblioteca” é um delicioso pequeno livro de contos (uma mera meia dúzia) que giram à volta de livros, leitores, escritores e… exactamente, bibliotecas.

 

Vencedor do WORLD FANTASY AWARD em 2003, tal como o nome do prémio indica é um livro que se enquadra na categoria do fantástico. Todos os contos têm na sua génese uma grande dose de fantasia, engenhosamente misturada com o real e com uns pozinhos de humor aqui e ali.

 

E há também em todos eles um certo “suspense”, um elemento que nos intriga e faz querer não parar de ler até percebermos aonde a história nos leva, e conhecermos o seu desfecho – que é, no entanto, muitas vezes um final semi-aberto… deixando o que se passará depois por conta da nossa imaginação.

 

No conto “A Biblioteca Virtual”, um escritor vê-se de repente na presença de uma página online onde encontra descrita toda a sua obra passada e… futura.

 

“A Biblioteca Particular” gira à volta de uma caixa de correio que “produz” um livro novo de cada vez que é aberta.

 

Em “A Biblioteca Nocturna”, um cliente assíduo de uma biblioteca chega depois da hora de encerramento, para descobrir que à noite a “sua” biblioteca é bem diferente.

 

“A Biblioteca Infernal” é um lugar onde são expiados eternamente os “pecados” cometidos em vida.

 

Um dos protagonistas do conto “A Biblioteca Minimal” é um livro que oferece um conteúdo diferente de cada vez que é aberto.

 

E o herói de “A Biblioteca Requintada” é um livro teimoso e surpreendente – e a história acaba por nos surpreender também.

 

Além de terem a mesma temática – o universo dos livros – existe um denominador comum a quase todos os protagonistas humanos destes vários contos: a obsessão. Todos eles, e com a excepção do conto “A Biblioteca Infernal”, têm um comportamento obsessivo (e por vezes também compulsivo) em maior ou menor grau. Diferentes na sua concepção básica, une-os o fio comum dos livros e desses laivos mais ou menos acentuados de obsessão, o que acaba por conferir ao livro no seu todo um certo carácter unitário.

 

Além da sua presença na Feira do Livro, Zoran Živković esteve no passado dia 6, ao fim da tarde, na Bertrand do Chiado à conversa com quem teve a sorte de ir lá para o ouvir. E digo sorte porque além de bom escritor, é também um excelente conversador. Simpático, bem-humorado e muito afável, não se coibiu de revelar muitos pormenores do seu processo de escrita, a forma como lhe surgem as suas histórias, como as escreve, e o que para ele significa escrever: uma grande vontade de contar histórias que despertem e mantenham o interesse dos leitores.

 

Com o recente lançamento de “O Livro”, são já seis os títulos de obras de Zoran Živković publicados pela editora Cavalo de Ferro. “A Biblioteca” foi o primeiro livro que li deste autor e deixou-me, sem qualquer dúvida, com vontade de ler mais.

 

 

Entre aspas #3 John Hodgman

por Ana CB, em 10.06.16

 

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