Insanidade, irracionalidade, destruição
É certo que pessoas são mais importantes do que qualquer bem material. Não é possível ignorar que muitos milhares de pessoas têm morrido nos últimos anos em todo o mundo por causa dos conflitos gerados pelos fundamentalistas islâmicos, a maioria delas de forma brutal e desumana. A maioria dessas vítimas mortas sem qualquer motivo que não o de estarem no lugar errado à hora errada. São crimes horrendos perpetrados em nome de um qualquer deus maior, em nome de uma crença e uma fé irracionais, fundamentada em premissas insanas. Não há palavras que consigam reproduzir o sentimento de revolta que isso causa em mim.
Mas também não posso deixar passar em branco as notícias da destruição que os extremistas fanáticos do Estado Islâmico estão a levar a cabo desde há alguns dias na cidade de Mossul, a segunda maior cidade do Iraque.
Entre outros actos igualmente inqualificáveis, militantes do Isis fizeram explodir a Biblioteca Pública, uma instituição fundada em 1921 que abrigava um enorme repositório de livros antigos e manuscritos raros, alguns deles datando do séc. XVIII. As notícias mais recentes divulgam que mais de 100 mil obras foram queimadas, incluindo uma enorme colecção de jornais do início do séc. XX, num enorme auto-de-fé que tem como “justificação” o simples facto de não reproduzirem a palavra de Alá.
Esta barbárie tem-se estendido a outros locais, infligindo grandes danos a vários edifícios institucionais e aos seus conteúdos, como é o caso da Biblioteca Muçulmana Sunita, da biblioteca da Igreja Latina e Mosteiro dos Frades Dominicanos (que data de há 265 anos), da biblioteca da Universidade local e do Museu de Mossul. Neste museu foi devastado um património cultural incalculável entre o qual se contavam estátuas mesopotâmicas milenares, cuja destruição é mostrada em fotografias e num vídeo divulgados há algumas horas pela comunicação social.
Hoje, em pleno ano quinze do séc. XXI, quando supostamente deveríamos estar a caminhar para um futuro mais civilizado, mais humano e mais esclarecido, a sensação que tenho é a de que por qualquer distorção no espaço-tempo regressámos à Idade Média. Não existe, não pode existir qualquer justificação lógica e racional para as atrocidades que são cometidas nos nossos dias, a coberto de supostos valores religiosos, por ensandecidos fanáticos que se autoproclamam senhores da verdade.
A falta de educação, de cultura, de conhecimentos pode justificar muita coisa. Mas não há nada que justifique a falta de humanidade.
(foto obtida em breaking news network)
Links para artigos sobre este assunto:
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=761508
http://hyperallergic.com/185590/8000-books-and-manuscripts-lost-after-isis-bombs-mosul-library/
http://www.cmjornal.xl.pt/opiniao/colunistas/francisco_j__goncalves/detalhe/a_fe_dos_ignorantes.html