Perguntas de retórica #1
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A todos,
Obrigado pelas vossas reacções afectuosas e pelas vossas mensagens. Como todos vós, estou arrasado com este atentado ignominioso contra o grupo do Charlie Hebdo. Perco amigos e professores, e todos os meus pensamentos estão com os seus familiares. Mas para além desta tragédia, o alvo foi toda a nossa sociedade; foi cada um de nós, na sua liberdade de pensamento. O 7 de Janeiro de 2015 é um dia negro para a democracia. Vergonha para o fascismo religioso.)Esta época de festas que está agora no fim é para mim sempre uma época de excepção – não especificamente pelo Natal ou pelo fim de ano, mas porque é uma daquelas alturas em que se sai nitidamente da rotina, a bem ou a mal.
Olhando para os meus já muitos Natais passados, existe um óbvio denominador comum a todos: é sempre vivido em família. Fora isso, e por muitas e variadas razões, é sempre diferente. O local vai variando, as pessoas presentes e ausentes também (a família ora encolhe, ora estica), e até o que comemos raramente se repete: há bacalhau, mas nunca o simples cozido com batatas e couves, e todos os anos se experimenta uma receita diferente; e de há muitos anos para cá também há peru, que mesmo assim nunca é feito exactamente da mesma maneira. Para além disso, é a eterna parafernália das fatias douradas, e azevias, e bolo-rei, entre muitas outras sobremesas igualmente calóricas (incluindo uma aletria doce que alguém faz divinalmente, e que eu adoro).
Quando havia uma criança pequena em casa, o Pai Natal chegava à meia-noite, no meio de grande barulheira, e largava uma montanha de presentes por baixo da chaminé (ou à porta de casa, quando a prenda era demasiado grande), mas nunca se mostrava realmente – as crianças são demasiado espertas para não reconhecerem rostos, vozes e corpos que lhes são familiares. Hoje em dia somos mais prosaicos, abrimos os presentes familiares por volta da meia-noite, depois do jantar. Os outros, os que recebo dos não-familiares, abro-os habitualmente no dia de Natal: é uma forma de duplicar os momentos bons.
Sou sempre uma sortuda com as prendas que me oferecem, e este ano não foi excepção. Claro que os livros não podiam faltar, até porque toda a gente conhece esta minha paixão, e por isso a minha prateleira de leituras para o futuro conta com mais dois exemplares, mais propriamente estes:
O livro do Philipp Meyer vai ser uma estreia, nunca li nada dele, mas as críticas são excelentes. Já Paul Theroux é um “velho amigo” de quem li há algum tempo o “Viagem por África” (gostei imenso) e estou presentemente a ler “Comboio-fantasma para o Oriente”. Literatura de viagens do melhor que existe.
Recebi ainda o “Wreck this Journal”, um livro-caderno da artista conceptual Keri Smith, cuja finalidade é ser preenchido/destruído de diversas maneiras sugeridas, como forma de estimular a criatividade. Divertido e original.
Mas ainda melhor do que receber prendas é para mim oferecê-las, e as que ofereço são geralmente compradas ou preparadas com alguma antecedência. Não muita, que procurar a prenda certa para cada pessoa leva o seu tempo, são horas a pesquisar e ver lojas, para depois me decidir às vezes por mais do que uma coisa. E algumas acabam por ser total ou parcialmente feitas por mim.
Como nesta altura há sempre algum almoço, jantar ou festa que tem lugar aqui em casa, divirto-me a criar decorações a condizer com a época, entre as quais é obrigatória a árvore de Natal. Há anos atrás era sempre uma árvore natural, depois passou a ser artificial, e mais recentemente decidi inventar as minhas próprias árvores, e são sempre diferentes. Este ano foi numa parede, como podem ver aqui.
O dia de Natal também nunca se repete, por vezes fico em casa todo o dia, outras vezes há um almoço, ou um jantar, outras vezes ainda saio para passear, ou à noite para dançar. Não sou particularmente apreciadora de canções de Natal, nem dos habituais filmes que passam recorrentemente na televisão, mas gosto do “Love actually” (“O amor acontece”, em português) e da versão do “All I want for Christmas is you” que uma miúda talentosa canta no filme.
E por força das circunstâncias, porque sempre vivi no nosso país, para mim o Natal está associado ao frio; muita pena tenho eu de não nevar aqui na zona de Lisboa, o que seria visualmente muito mais bonito. Mas como na realidade não sou grande apreciadora de temperaturas baixas, hei-de um dia experimentar passar o Natal num país quente. Afinal, o mais importante nesta quadra é mesmo estar com aqueles de quem gostamos, e partilhar a alegria que isso nos traz, seja onde for.
(Este post é assim como que uma espécie de resposta à Inês, à Magda e à M*, que me desafiaram aqui, aqui e aqui a responder a algumas perguntas. Obrigada às três, e desculpem o atraso e a minha rebeldia em relação ao formato pergunta-resposta).