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Gene de traça

Livros e etc.

Por favor parem de assassinar a língua portuguesa #2

por Ana CB, em 17.11.14

Quem escolheu a escrita como profissão (escritores, jornalistas, publicitários), quem ensina a língua portuguesa (professores, formadores, educadores) e quem a utiliza como ferramenta de trabalho primordial e chega ao grande público (tradutores, revisores de textos, advogados, juízes, legisladores, políticos, locutores de rádio e televisão, etc., etc.) tem como dever maior o de tratar bem a nossa língua – com ou sem sotaque, com ou sem acordo ortográfico. Porque são estas as pessoas que são ouvidas e lidas pela restante população falante, e é por elas que a grande maioria das pessoas se vai reger ao falar no dia-a-dia, são elas que vão ensinar miúdos e graúdos a falar e a escrever.

São pessoas com responsabilidades acrescidas no que toca à (boa) utilização do português.

A acrescer a isto, hoje em dia não precisamos de enfiar o nariz num compêndio de cada vez que temos uma dúvida sobre a nossa língua, nem de perder horas para a esclarecer. Está praticamente tudo à distância de poucos cliques no botão do rato, graças à Internet – e embora nem tudo seja completamente fiável, há muita e boa informação ao nosso dispor, de acesso fácil e rápido.

Então porque é que será que cada vez mais se lê e se ouve mau português? Eu sei que muitos dos erros que encontramos nos livros e outros textos são gralhas dactilográficas, erros de simpatia, e etc. Também sei que, por uma questão de estilo de escrita, por vezes se opta por uma construção frásica menos correcta ou se cometem erros intencionais, ou usam expressões ou palavras de uma forma mais “livre”. Mas quando certas manias começam a ser constantes, recorrentes, e se entranham de tal maneira na língua que acabam por ser usadas e repetidas por toda a gente como se de bom português se tratasse, e ainda por cima passam a ser, se não aceites, pelo menos bem toleradas até pelos académicos mais competentes… então temos o caso mesmo muito mal parado.

Vem isto a propósito de ter lido há poucos dias, no blog de uma escritora portuguesa famosa, a expressão “tenho a certeza que”. E de ouvir e ler constantemente coisas como “aquilo que gostamos”, “são coisas que gosto”, e outras no género.

Eu sei que dizer “tenho a certeza de que” nos obriga a dobrar mais um bocadinho a língua e dá mais trabalho a pronunciar. Também sei que é mais fácil e rápido omitir o “de” em “aquilo de que gostamos” e “são coisas de que gosto”. E esta “eliminação” sistemática da preposição “de” já se tornou tão comum que ninguém liga, e até os estudiosos do português passaram recentemente a aceitar este fenómeno (e outros) como fazendo parte da evolução normal da língua, sendo portanto tolerável.

Mas a mim continua a ofender-me os ouvidos. Chamem-me intolerante, purista, exagerada, o que quiserem, mas continuo a sentir-me incomodada quando ouço estes “arranhões” na língua portuguesa. Que são cada vez mais e mais frequentes, a ponto de já quase não se ouvirem nem lerem as expressões correctas.

E isto é apenas a ponta do icebergue.

Para quem não conhece, sugiro que visitem o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, o site onde podemos esclarecer todas as nossas dúvidas sobre o português – além de ler muitos e variados artigos de interesse sobre a nossa língua. E se têm dúvidas sobre o que escrevi acima, aqui estão os links para duas respostas que foram dadas a esse respeito:

http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=30503

http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=30113

Será que escrever e falar bem o português é assim tão mais difícil do que fazê-lo mal? Ou será só uma questão de desinteresse e preguiça?

Dust if you must

por Ana CB, em 14.11.14

 

 

 

 

 

 

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 "Dust if you must" foi escrito em 1998 por Rose Milligan