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Gene de traça

Livros e etc.

Por que não concordo com o acordo ortográfico

por Ana CB, em 29.09.22

Uns gritam e insultam, outros defendem a sua dama com unhas e dentes. Outros ainda optam por se deixarem ir com a maré. Já se gastou mais tinta e dinheiro com o novo acordo ortográfico do que o orçamento atribuído anualmente a muitas juntas de freguesia.

 

A classe governativa portuguesa (e não estou aqui a pontar o dedo a este ou àquele partido) enferma de há uns bons anos para cá de um complexo de pequenez em relação aos países estrangeiros que me irrita profundamente e me preocupa. Aparentemente defendendo que “o que é português é bom”, embarca em iniciativas que são tudo menos benéficas para o nosso país e a nossa identidade cultural específica – na maioria das vezes, iniciativas essas que são dispendiosas, supérfluas e discutíveis. Em detrimento, para nosso mal, de outras decisões em áreas bem mais importantes para o nosso país e quem o habita, decisões de fundo que deveriam ser bem estruturadas, adoptadas e avaliadas até se atingirem os objectivos propostos. E que não o são.

 

O novo acordo ortográfico é para mim um destes casos. Em vez de se implementarem e incentivarem – mas incentivarem a sério, não em modo faz-de-conta como se tem feito – programas de ensino de bom português (e não, meus amigos, não me refiro ao ensino teórico da gramática e afins, que actualmente atinge as raias do ridículo, de tão complicado que é) e de se estimular o gosto pela leitura e o seu consumo em doses industriais (porque só lendo muito e bom português se aprende bem a escrever e a usar a língua), decidiram as nossas cabeças pensantes aqui há uns anos embarcar nesta aventura que ainda nada nos trouxe de verdadeiramente positivo, e provavelmente nunca trará.

 

Como podem ver desde o início na coluna lateral deste meu blog, eu não estou de acordo com o acordo ortográfico. Nem com este, nem com nenhum. E vou explicar aqui porquê:

 

1 – Porque não faz falta um acordo ortográfico. Já são muitos os países que têm o português como língua oficial? São. São muitas as pessoas que o falam e escrevem? São. É preciso arranjar uma forma de unificar a nossa língua, para não andarmos a escrever cada um de sua maneira? Não. E se duvidam, olhem para o inglês. Querem língua mais falada, escrita, usada e arranhada do que o inglês? Querem língua mais viva, flexível e constantemente em evolução do que o inglês? Não me parece que encontrem com facilidade. Na língua inglesa também existe o inglês britânico e o inglês americano (e ainda o canadiano, o australiano, e etc., embora aqui as diferenças sejam mais a nível de vocabulário e pronúncia). E andam os países todos em que o inglês é língua oficial a entrar em acordos ortográficos e preocupados com a possibilidade de a língua morrer ou não evoluir? Não. Então porque é que nós temos obrigatoriamente de o fazer? Com ou sem acordos ortográficos, as diferenças vão sempre existir entre os vários países onde se fala português – mesmo que não na escrita, pelo menos ao nível do vocabulário e da pronúncia. Não é por termos um acordo ortográfico que os brasileiros vão entender-nos melhor quando falamos, ou que angolanos ou são-tomenses vão passar a consumir mais televisão portuguesa do que brasileira. Não é um acordo ortográfico que nos vai escancarar magicamente as portas do consumo de produtos editoriais portugueses no Brasil, na Guiné ou em Moçambique. O dinheiro que se tem gasto a implementar o novo acordo ortográfico teria sido bem mais utilizado a apoiar (muito mais) a internacionalização da nossa língua e dos nossos escritores – isto só para dar um exemplo.

 

2 – Porque é disparatado estar a implementar um acordo ortográfico que ainda não foi oficialmente adoptado (e se calhar nunca vai ser) por vários dos países de língua oficial portuguesa. Haverá realmente algum interesse prático em mexer tanto na nossa língua aqui em Portugal, quando na realidade os outros países que supostamente também aderiram não parecem estar assim tão empenhados quanto nós?

 

3 – Porque a verdade é que, digam o que disserem, foi o português de Portugal que saiu mais afectado deste acordo. Mas afinal, qual é o país de origem do português? O nosso, ou outro qualquer? Se tem de haver uma aproximação, não seria mais lógico que fosse em maior percentagem ao nosso português, que à partida estará menos “modificado” em relação à língua original? É claro que todas as línguas vão evoluindo ao longo dos tempos, e o português deveria ser realmente mais flexível sobretudo no que diz respeito às palavras novas que surgem como resultado da evolução tecnológica e científica. Mas isso não justifica que agora o português de Portugal passe a adquirir um papel secundário em relação ao português que se fala noutros países.

 

4 – Porque se é verdade que algumas (muito poucas) alterações introduzidas pelo novo acordo terão alguma razão de ser do ponto de vista linguístico e na realidade até nem chateiam quase ninguém, mais verdade é que a grande maioria não tem qualquer justificação decente. Se a ideia é adaptar a grafia à pronúncia, então vamos escrever tudo tal como pronunciamos? Neste caso passaríamos a ter em inúmeras palavras não dupla grafia, como já acontece, mas tripla ou quádrupla – há palavras que têm várias formas de pronúncia, consoante o país. Além disso, seguindo este raciocínio muito mais seria necessário mexer na nossa escrita, pois não faria sentido alterar umas palavras para se escreverem como se pronunciam e não alterar outras. Sem entrar em grandes pormenores, facilmente se compreende que, por exemplo, o pobre “h” iria quase desaparecer da nossa escrita…

 

5 – Porque este acordo ortográfico não tem pés nem cabeça. É verdade que se tem lido por aí muita barbaridade em relação a supostas alterações que na realidade não estão previstas, e à conta disto muita asneira se tem escrito. Mas mesmo descontando estes exageros, digam-me lá como é que eu distingo “pára” de “para”? Pior ainda: como é que uma criança pequena que está a aprender a ler vai distinguir uma palavra da outra, uma vez que ainda não tem “bagagem” linguística suficiente que lhe permita fazer intuitivamente essa destrinça em qualquer texto? Se até para mim não é óbvio logo à primeira vista… E como é que ela vai distinguir facilmente “acto” de “ato”? E terá lógica eu escrever “Egito” quando falo do país, mas “egípcios” se falo dos seus habitantes?

 

Dito isto, eu gostava que alguém conseguisse explicar-me – mas explicar mesmo, com argumentos perceptíveis e verdadeiros – o porquê deste acordo e a lógica subjacente a tantas e tão disparatadas alterações. Talvez então eu conseguisse finalmente concordar com o acordo. Até lá, não contem comigo.

INOMINÁVEL #9

por Ana CB, em 04.08.17

 

Chegou a INOMINÁVEL n.º 9 - fresquinha, fresquinha!

 

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Leituras alternativas para as férias

por Ana CB, em 13.07.17

 

Por esta altura não há jornal, revista, livraria ou blogue literário que não publique a sua lista de livros recomendados para ler nas férias. Normalmente são novidades, ou clássicos, ou uma mistura dos dois. Pois eu, apesar de ultimamente andar a dedicar pouco tempo às leituras e a este blogue, não quero deixar passar a oportunidade de sugerir a minha lista – que, como vão perceber, é bastante heterogénea e muito pouco ortodoxa. O meu critério? Fazem todos parte da minha biblioteca, não são livros muito grandes (e portanto são bons para levar na mala de viagem) e, com uma ou outra excepção, as histórias que contam não são demasiado “pesadas” ou difíceis de seguir – porque na minha opinião (e os fundamentalistas que me desculpem), as férias pedem livros que se leiam bem em qualquer lado, que se possam pegar e largar em qualquer altura sem receio de perder o fio à meada, e que sejam mais virados para o bom humor do que para a introspecção. Sem abrir mão da qualidade.

 

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Um romance adorável sobre o amor e a poesia: O Carteiro de Pablo Neruda, de Antonio Skármeta

 

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Partindo de alguns factos reais da vida (e morte) do famoso poeta chileno Pablo Neruda e de toda a agitação política do Chile nos finais dos anos 60 e início da década de 70, Skármeta constrói um delicioso, vivaz e enternecedor romance sobre um pescador que se torna carteiro, a sua paixão por uma jovem, e a sua relação com Neruda, em quem se apoia para conquistar o objecto do seu desejo – processo no qual vai descobrindo e mostrando o porquê da existência da poesia. Deste livro saiu um filme igualmente bom e inesquecível, baseado no fio condutor da história do livro mas afastando-se um pouco dele, de forma igualmente brilhante, na caracterização das personagens. Ambos, livro e filme, são altamente aconselháveis, e um daqueles poucos casos em que um não é melhor do que o outro.

 

Uma ficção à volta da política e do jornalismo: House of Cards, de Michael Dobbs

 

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O título não será certamente estranho a quem for fã da série americana e de Kevin Spacey, um dos patifes mais fascinantes até agora encarnados por este enorme actor – que é excelente quando faz de “bom”, mas verdadeiramente excepcional quando representa o “mau da fita”. Mas adiante. O que poderá ser surpresa é o facto de a série se basear muito proximamente num livro escrito por um jornalista político… britânico. Verdade, verdadinha: House of Cards foi o primeiro romance político de Michael Dobbs (que foi mais tarde conselheiro de três primeiros-ministros do Reino Unido), foi escrito em 1989 e passa-se nos meandros das Casas do Parlamento. Aliás, para além dos jogos maquiavélicos do tortuoso protagonista da história, Francis Urquhart, um dos motivos maiores de interesse deste livro é mesmo a descrição – e dissecação – do sistema parlamentar britânico, com os seus rituais, preceitos e tiques. Um livro bem construído, com muito ritmo, e simultaneamente muito revelador.

(Em jeito de aparte: é brilhante a forma como a realidade britânica foi adaptada ao sistema americano na série televisiva; mais um caso em que a literatura e a cinematografia se equiparam e produzem ambas resultados notáveis.)

 

Um policial muito inglês: Um Vinho Atordoante, de Kate Charles

 

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A linhagem de escritoras inglesas de romances policiais é longa e de enorme qualidade, e Kate Charles poderia fazer parte dela… não fosse o facto de ter nascido nos Estados Unidos. No entanto, os seus livros policiais têm como subtítulo “Um mistério clerical”, são passados em Inglaterra e seguem a linha tradicional das histórias policiais inglesas: ambientes relativamente fechados, conservadores, frequentemente rurais, com um naipe de actores algo excêntricos e protagonistas muito perspicazes. Um vinho atordoante é o primeiro de uma série de cinco volumes que tomou o nome genérico de Livro dos Salmos: cinco histórias passadas à volta de outras tantas igrejas e quem a elas está ligado, com mortes misteriosas, os suspeitos do costume, voltas e reviravoltas, e um casal de advogados que acaba por solucionar o caso. Very British…

Como e porque é que uma americana consegue escrever policiais tão “britânicos”? Simples: casou com um inglês e vive no Reino Unido há várias décadas. Mistério explicado :)

 

Uma ficção científica bem construída: Viagem Fantástica ao Cérebro, de Isaac Asimov

 

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Antes, muito antes, dos delírios mais fantasiosos do que científicos dos escritores de ficção científica modernos, este género literário já tinha nas suas fileiras grandes nomes que atraíam leitores fiéis. Isaac Asimov, um americano nascido na Rússia, é um desses escritores. Professor universitário de bioquímica, visionário que previu com grande antecedência muitos dos desenvolvimentos tecnológicos de que hoje usufruímos, nas suas quase 500 obras escritas contam-se muitos dos clássicos da FC – como é por exemplo o caso de Eu, Robô, que foi há alguns anos adaptado ao cinema. Este Viagem Fantástica ao Cérebro é um prodígio de possibilidades, uma história irrepreensivelmente bem contada e quase verosímil do ponto de vista teórico, cheia de acção e algum suspense, e um grande entretenimento. O tema da miniaturização e as viagens dentro do corpo humano tornaram-se entretanto algo recorrentes, sobretudo no cinema, mas a verdade é que Asimov escreveu este livro em 1987 a partir de um guião seu para um filme de 1966 (com o qual não ficou satisfeito). Nas edições mais recentes, o título dado a este livro é Viagem Fantástica II - Destino Cérebro.

 

Um livro de BD clássico e delicioso: Astérix e Latraviata, de Goscinny e Uderzo

 

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Sou completamente fã desta série de BD e tenho uma grande parte dos livros da colecção Este que sugiro é talvez um dos menos famosos, mas não é menos divertido do que qualquer um dos outros. Cheio, como sempre, de anacronismos deliciosos, pisca o olho à espionagem política e à manipulação psicológica, com os azarados romanos a continuarem azarados e os irredutíveis gauleses a continuarem grandes apreciadores de javalis. Impossível não terminar a (rápida) leitura com um sorriso no rosto.

 

Uma história verídica e divertida: A Minha Pequena Livraria, de Wendy Welch

 

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As aventuras e desventuras, contadas na primeira pessoa, de um casal que decidiu abrir uma livraria numa pequena localidade da Virgínia, nos Estados Unidos. Inicialmente projectado para ser um manual de apoio a quem quisesse iniciar-se no ramo livreiro (tal como a própria autora conta no livro), A Minha Pequena Livraria acabou por se transformar numa espécie de romance biográfico, despretensioso e muito bem-humorado, sobre um casal, os seus cães e gatos, uma comunidade nos Apalaches para quem eles eram estrangeiros, e um sonho que impulsivamente decidiram tornar realidade. Hoje, a livraria Tales of the Lonesome Pine – a verdadeira protagonista do livro – é já uma referência cultural local, e o seu dia-a-dia pode ser seguido mais de perto no blogue de Wendy: https://wendywelchbigstonegap.wordpress.com/.

 

Um romance no feminino: A Cor Púrpura, de Alice Walker

 

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É possível contar uma história de opressão e desamor de uma forma terna e quase doce? É sim, e Alice Walker consegue-o magistralmente neste romance. Quem gostou do filme de Spielberg vai adorar o livro, a linguagem expressiva que Celie usa nas suas cartas não enviadas a Deus e a Nettie, a sua irmã desaparecida, as subtilezas que deixam adivinhar sentimentos, as palavras cruas que descrevem injustiças e discriminação, e a evolução da aparentemente plácida e quase apática protagonista até se tornar numa mulher forte e independente. Quem não viu o filme, vai adorar o livro também. Certas passagens provocam-nos um aperto no peito, outras um sorriso de contentamento, mas ninguém consegue ficar indiferente.

 

Uma fantasia belíssima: O Circo dos Sonhos, de Erin Morgenstern

 

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Este é um livro surpreendente e com uma tal riqueza imaginativa ao nível dos pormenores que consegue transportar-nos quase fisicamente para o centro da acção. Dois mágicos competem um contra o outro, tentando manter-se imortais, e para isso fazem uso de dois pupilos e de um circo. O resto é uma teia de encantos, de coincidências e acasos e ocorrências que vão sendo contadas de forma meio solta até finalmente se encaixarem umas nas outras como peças de um puzzle bem imaginado, num cenário encantado por onde passeiam personagens misteriosas e, afinal, muito humanas, por mais que queiram contrariar a sua natureza.

 

Um romance leve e despretensioso: A Carta de Amor, de Cathleen Schine

 

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As livrarias são cenários apetecíveis para histórias de amor. Mas embora exista uma livraria envolvida neste romance, o catalisador da história é a carta que cai de dentro de um livro, uma carta que não refere nomes, só pseudónimos. Este acontecimento vai dar origem a uma sucessão de interpretações erradas, desencontros, situações divertidas e surpreendentes revelações. Ao contrário do que o título pode dar a entender, este não é um livro cheio de romantismos lamechas; é ternurento q.b., dá uns pontapés bem dados nalgumas convenções e tem muito humor.

Dele também foi feito um filme, mas na minha opinião o livro é bem melhor.

 

Um livro biográfico: Escritos de Frida Kahlo, com selecção de Raquel Tibol

 

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Já muito se escreveu, filmou e comentou sobre Frida Kahlo. Neste livro, é a própria voz desta pintora mexicana que se faz ouvir através de palavras escritas pela sua mão. São cartas, poemas e toda a espécie de outros textos, alguns apenas apontamentos, que Frida escreveu entre 1922 e 1951, e que Raquel Tibol (em tempos secretária de Diego Rivera, o marido da pintora) seleccionou e compilou para nos oferecer um retrato multidimensional e intimista da pintora, de quem o mínimo que se pode dizer é ter sido uma mulher original – e absolutamente excepcional.

 

Um Prémio Nobel: O Quinto Filho, de Doris Lessing

 

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Definitivamente, esta não é uma história “leve”. Então porque é que a incluo nesta lista? Porque gosto dela e porque é, também, uma história de amor e de esperança: o amor de uma mãe pelo seu filho e a sua esperança em conseguir proporcionar-lhe alguma felicidade. Numa família inglesa vulgar e feliz nasce um quinto filho que se revela agressivo e problemático desde o início, conseguindo afectar de forma negativa todo o ambiente familiar e espalhando infelicidade à sua volta. O resultado é o desmoronamento progressivo dessa família, em que a mãe é a única que consegue, com o sacrifício do seu bem-estar e dos seus sonhos, não desistir completamente de encontrar para esse filho um futuro melhor do que o que lhe parece estar predestinado.

Dramática e violenta, sobretudo psicologicamente, esta é uma história que nos agarra. E que suscita dúvidas angustiantes: porque é que certas pessoas parecem nascer para o mal? Será uma questão genética? Será possível contrariar esta característica com a educação? Haverá esperança de felicidade, quiçá de mudança para estas pessoas?

 

Um policial delicioso que afinal não é bem um policial: A Agência N.º 1 de Mulheres Detectives, de Alexander McCall Smith

 

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O problema maior deste livro é que quando se chega ao fim continuamos com vontade de ler mais. Nós e os acima de 20 milhões de pessoas que já leram o livro em todo o mundo… Mas não há problema: até agora o autor já escreveu outros 17 livros em que a personagem principal é Mma Ramotswe, primeira e única detective feminina no Botsuana, especialista em resolver problemas, mistérios e crimes de todas as espécies. Primeiro da série que tem o mesmo nome, A Agência N.º 1 de Mulheres Detectives é simplesmente de-li-ci-o-so e não há como não ficar a adorar a protagonista, a originalidade das histórias em que se vê envolvida, os seus métodos pouco ortodoxos mas muito eficazes, a sua humanidade e inteligência, o exotismo do ambiente e das tradições deste país africano. Tudo escrito e descrito de uma forma fluida, divertida, alegre e com grande sensibilidade, mesmo quando os assuntos abordados são mais pungentes. Resumir este livro numa palavra? É fácil: diferente.

 

Um livro de viagens: Nos Passos de Santo António, de Gonçalo Cadilhe

 

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Férias para mim são quase sempre sinónimo de viagem, seja para longe ou para perto. Mas mesmo para quem o conceito de férias signifique simplesmente ficar estiraçado num sofá, numa espreguiçadeira ou numa toalha de praia, em casa ou perto dela, um livro sobre viagens é sempre uma forma de viajar sem sair do sítio. Neste livro, o último do nosso mais emblemático escritor-viajante, Gonçalo viaja pelo percurso parcialmente conhecido (e parcialmente pressuposto) percorrido na Idade Média por aquele que é um dos santos mais amados da igreja católica e mais representados nas suas igrejas: Santo António de Lisboa (que também é de Pádua, pois não regressou à sua terra-mãe antes de morrer; mas nós perdoamos-lhe esta espécie de dupla nacionalidade). De Portugal a Itália, passando pelo norte de África e o Mediterrâneo, entre as reais aventuras do autor e as reminiscências da vida do nosso santo, este livro é simultaneamente uma lição de História e uma viagem temática inspiradora.

 

Um romance histórico em fundo africano: O Abissínio, de Jean-Christophe Rufin

 

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Finais do séc. XVII. Jean-Baptiste é médico no Cairo, mas o destino coloca-o numa comitiva que Luís XIV de França, desejoso de expandir ainda mais o seu poder, decide enviar em representação do seu reino ao Négus da Abissínia (Etiópia). Durante a sua viagem vai apaixonar-se por esta região feiticeira, pela sua cultura e gentes, vai conhecer personagens formidáveis e atravessar paisagens arrebatadoras, vai encontrar o amor, e vai acabar por defender firmemente um território que seria suposto ele subjugar e converter à fé católica.

Uma história envolvente, cheia de romance, aventura e pormenores que nos transportam a uma época e um horizonte longínquos, excepcionalmente bem escrita por Jean-Christophe Rufin, um médico, historiador, escritor e diplomata francês com uma longa e produtiva carreira em ONGs e como embaixador. O autor voltou a pegar nestas personagens para escrever O Boticário do Rei, com a acção a desenrolar-se vinte anos mais tarde.

 

Boas férias e boas leituras!

 

 

Parem de assassinar a língua portuguesa #3

por Ana CB, em 12.07.17

 

A última moda em atentados à nossa língua parece ser usar “tive” em vez de “estive”.

Eu sei que a língua falada tem diferenças em relação à língua escrita. Quem nunca disse “tá bem” ou “tou que nem posso”? Nem sempre falamos como escrevemos – e isto é comum em muitas línguas. Portanto não é, em si, problemático.

Ou não deveria ser.

Mas, meus amigos, “tive” é a 1ª pessoa do singular do pretérito perfeito do verbo “ter”, não do verbo “estar”:

Eu tive um jantar na casa de uns amigos.

Eu estive a jantar em casa de uns amigos

Dá para perceber a diferença, certo?

Dizer “tive” em vez de “estive” já não é grande coisa. Mas o facto de se poderem tolerar certas liberdades quando falamos não quer dizer que elas sejam aceitáveis quando escrevemos.

E não, dizer/escrever “tive no Algarve” não é in, nem jovem, nem fashion, nem nada – é simplesmente errado. Deixem-se disso!

 

INOMINÁVEL #8

por Ana CB, em 02.06.17

 

Acabou de sair a INOMINÁVEL n.º 8, e traz uma mão cheia de novidades. Já foram espreitar?

 

Inominável n.º 8

 

INOMINÁVEL # 7

por Ana CB, em 07.04.17

 

 Já está online a Revista INOMINÁVEL n.º 7, dedicada ao mês de Abril. Sempre com novidades.

 

Inominável #7

 

 

 

Queres ser INOMINÁVEL?

por Ana CB, em 09.03.17

 

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Entre aspas #14 Jean Rhys

por Ana CB, em 06.02.17

 

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INOMINÁVEL n.º 6

por Ana CB, em 03.02.17

 

Hoje vou falar-vos da INOMINÁVEL.

 

Que é uma revista (não confundir com o outro senhor…). Onde eu colaboro na rubrica de Viagens e na revisão dos textos. É uma revista apenas lançada online, e cujos artigos vão depois sendo publicados no blogue que tem o mesmo nome: revistainominavel.blogs.sapo.pt. É uma revista feita maioritariamente por bloggers, editada pela Maria Alfacinha (autora do blogue O Meu Alpendre), que a co-idealizou com a Magda Pais (dos blogues StoneArt Portugal e Stoneart Books).

 

Inominável #6

 

Acabou de sair o número 6 da revista, cujo tema de inspiração é o Carnaval (mas onde na verdade do Carnaval propriamente dito se fala muito pouco). Um número que, na minha opinião, está muito bom. Mas é claro que eu sou suspeita, e por isso não há como irem verificar se tenho ou não razão.

 

Para vos abrir o apetite, aqui está um resumo do que podem ler nesta edição:

 

- As propostas de entretenimento do André (do blogue Palavras ao Vento), na AGENDA CULTURAL

 

- Um percurso circense por vários videojogos conduzido pelo Rei Bacalhau (do blogue O Bom, o Mau e o Feio), na coluna 2D3D

 

- No ANEXO, a Márcia (do blogue Planeta Márcia) conta-nos como é que escolhe “o livro que se segue”

 

- E ‘BORA LÁ FAZER umas coisas giras, seguindo as instruções da Ana Delfino

 

- A poesia e prosa da COLUNISTA ACIDENTAL deste número, Alice Duarte, que tem trabalhos seus publicados em várias colectâneas, além de um livro de poesia

  

- No CORREIO (pouco) SENTIMENTAL, a endiabrada dupla MJ (E agora? Sei lá!) + Maria das Palavras (do blogue com o mesmo nome) continua a inventar as situações mais mirabolantes que é possível imaginar

 

- O segundo episódio da história que a Carina (do blogue Contador d’Estórias) está a escrever para a rubrica CRIADORES DE IMPOSSÍVEIS

 

- A Dona Pavlova (do blogue que tem o seu nome) dá as receitas daquelas gulodices sempre presentes em qualquer festa popular portuguesa, na coluna ESTAR NO PONTO

 

- A importância da velocidade de obturação e o melhor formato no qual guardar fotos, na rubrica FOTOGRAFIA: A LUZ E O OLHAR, escrita pelo Gil (http://www.gilcardoso.net/)

 

- A Alexandra conta-nos HISTÓRIAS DE ARTE sobre Miguel Ângelo

 

- Em MUSICALIZANDO temos Luísa Sobral, trazida pela mão da Marta (do blogue Marta - o meu canto)

 

- O Alexandre (do blogue Jogo do Sério) fala-nos NA DESPORTIVA sobre as razões para vermos o Super Bowl (que é já no próximo domingo)

 

- N’O ESPAÇO AZUL ENTRE AS NUVENS, mais um belíssimo texto do Jonathan

 

- José da Xã (do blogue Lados AB) fala das comédias da sua infância, em PLAY IT, SAM!

 

- POR TERRAS DO REI ARTUR, a Inês (do blogue Alquimia do Momento) leva-nos até Cardiff e Exeter

 

- Para a rubrica VIAGENS, o Carnaval inspirou-me a mostrar alguns lugares cheios de cor que há pelo mundo (e podem ir buscar outras inspirações a Viajar. Porque sim.)

 

Curiosos? Então vão lá ler a INOMINÁVEL. Basta clicarem na foto da capa.

 

 

 

Entre aspas #13 Christopher Morley

por Ana CB, em 31.01.17

 

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