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Gene de traça

Livros e etc.

Stephen King

por Ana CB, em 01.08.16

 

Stephen King é provavelmente o mais prolífico escritor de histórias de terror/ficção fantástica de sempre. Livros publicados são mais de setenta (alguns sob o pseudónimo Richard Bachman), e entre contos e argumentos para cinema e televisão tem mais umas quantas dezenas de obras. Segundo a Wikipedia, é o nono autor mais traduzido em todo o mundo, com uma estimativa de 350 milhões de cópias vendidas em 40 países.

 

Um fenómeno de popularidade, cujos primeiros sucessos foram “Carrie” e “The Shining” (“A Luz”, na tradução portuguesa), prontamente adaptados ao cinema e hoje já com o estatuto de filmes de culto.

 

Fui uma adolescente emotiva e facilmente impressionável, e por isso não particularmente fã de filmes deste tipo; consequentemente, não fiz questão de os ver quando estrearam em Portugal. Mas mesmo quando os vi em adulta (e gostei, claro!), o nome de Stephen King continuou a passar-me ao lado. Creio que só com “Misery – O capítulo final”, um filme muito mais dentro das minhas preferências, despertei para o fenómeno Stephen King.

 

E depois, um belo dia, o Círculo de Leitores (ah, que saudades de folhear a revista!) decidiu lançar uma colecção com as suas obras, e foi a rendição total: fiquei fã dos livros logo a partir da primeira leitura. Porque se os filmes são bons, os livros são ainda melhores.

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Resumindo: tenho 21 – sim, vinte e um – livros de Stephen King. Há já muito tempo que não leio nada dele, mas em Fevereiro vai estrear no cinema “A Torre Negra” e está a ser gerada alguma expectativa em torno do filme – que ainda por cima tem o (fantástico, carismático, e sei lá mais o quê) Idris Elba como um dos protagonistas.

 

O mais espantoso em Stephen King é que não se repete. Apesar de alguns pontos de contacto aqui e ali, cada um dos seus livros ou contos é uma novidade, uma história diferente, um outro ambiente fantástico; a sua imaginação não tem limites. É certo que “Christine” e “Buick 8” têm como protagonista um carro, que “Desperation” e “Os Reguladores” (este assinado por Richard Bachman) têm um pano de fundo semelhante, e existe uma ligação assumida entre “O Jogo de Gerald” e “Eclipse Total”. Mas o enredo é desenvolvido de maneira diversa em cada livro, e King consegue sempre surpreender-me. Assusta-me, mantém-me em suspenso, enerva-me, irrita-me, enoja-me. Às vezes violento, outras subtil, por vezes sensível, mexe sempre comigo.

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É claro que não gostei de igual modo de todos estes livros de Stephen King que já li. Tenho os meus preferidos, e não me perguntem porque é que gostei mais destes do que dos outros, porque seria a mesma coisa que perguntarem-me porque é que gosto mais de azul do que de roxo. Aqui está a lista, com as respectivas sinopses.*

 

OS OLHOS DO DRAGÃO

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Dentro da diversidade dos livros de King, este é aquele que sai ainda mais fora do estilo habitual do autor. Claro que mete magia e sobrenatural, mas é passado em ambiente medieval e a história está escrita um bocado à maneira de um conto de fadas. Provavelmente destinado a um público mais adolescente, a verdade é que li-o de um fôlego, e reli-o mais tarde, e vou voltar a lê-lo.

 

Sinopse: Uma história fantástica de heróis e aventuras, de dragões, príncipes e feiticeiros malévolos. O reino de Delain vive momentos de grande turbulência porque o seu rei Roland morreu e Peter, o príncipe herdeiro, tem de lutar para conseguir o que é seu por direito. Tem contra si o terrível feiticeiro Flagg, que quer pôr no trono o irmão de Peter, Thomas, a quem consegue manipular mais facilmente. Mas claro que, como todos os planos, este tem as suas falhas… por exemplo, o terrível segredo de Thomas.

 

INSÓNIA

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É um livro um bocado viciante, senti-me em “banho-maria” durante algum tempo e ansiosa por perceber o que se passava realmente, e depois quando comecei a apanhar o fio à meada não conseguia largar o livro, ansiosa por saber o desfecho.

Sinopse: Ralph Roberts tem um problema: nos últimos dias não tem dormido muito bem. Na verdade, não tem dormido nada. Depois de sofrer vários traumas na sequência da morte da mulher com um tumor cerebral, a insónia que gradualmente o vai invadindo é o pior de tudo. Dormindo cada vez menos horas, Ralph instala-se numa cadeira diante da janela e observa quem passa para matar as horas. Ao fim de algum tempo apercebe- se de que todos os seres humanos possuem um fio de vida no mundo. E se esse fio fosse cortado abruptamente, como aconteceu à sua mulher?

 

OS TOMMYKNOCKERS

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São 777 páginas com uma história do outro mundo, certamente um dos seus maiores livros. Angustiante, por vezes até agoniante, mas estranhamente fascinante.

Sinopse: Alguma coisa está a acontecer na pequena e idílica cidade de Haven, no Maine, onde vive Bobbi Anderson. Alguma coisa que deu a cada homem, mulher e criança da cidade poderes muito maiores do que os de um comum mortal. Alguma coisa que transformou a cidade numa armadilha mortal para todos os forasteiros. Alguma coisa que veio de um objecto de metal, enterrado durante milénios, que Bobbi encontrou acidentalmente. Não é como se Bobbi e a boa gente de Haven tivessem vendido as suas almas para colherem as recompensas do demónio mais mortal deste lado do inferno. É mais como que uma espécie de possessão diabólica… uma invasão do corpo e da alma – e da mente…

 

À ESPERA DE UM MILAGRE

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O filme – realizado por Frank Darabont e com Tom Hanks como protagonista – é muito bom, e o livro consegue ser talvez ainda melhor, porque nos dá mais pormenores e nos envolve mais na história, lançando pistas a conta-gotas até descobrirmos a verdade.

Sinopse: Na penitenciária de Cold Mountain, ao longo da solitária fila de celas conhecida como a “Milha Verde”, assassinos tão depravados como o psicopático "Billy the Kid" Wharton e o possuído Eduard Delacroix aguardam que a morte chegue, quando forem amarrados à "Old Sparky". Aqui, são vigiados por guardas tão correctos como Paul Edgecombe, ou tão sádicos como Percy Wetmore. Mas bons ou maus, inocentes ou culpados, nenhum cometeu um crime tão brutal quanto o novo prisioneiro, John Coffey, condenado à morte por ter violado e matado duas meninas. Será Coffey um diabo em forma de gente? Ou será que é um tipo de ser humano muito, muito diferente?

 

A RAPARIGA QUE ADORAVA TOM GORDON

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Há muitos miúdos e adolescentes nas histórias de Stephen King. Por vezes sãos os “maus da fita”, outras vezes são heróis. Mesmo quando a imagem que o escritor nos transmite é mais “normal”, como no caso da protagonista deste livro, há sempre um volte-face que nos surpreende.

Sinopse: Trisha McFarland, de nove anos, afasta-se do caminho marcado quando ela, o seu irmão e a sua mãe recentemente divorciada fazem um passeio ao longo de um ramal do Trilho dos Apalaches. Perdida durante dias, afastando-se cada vez mais, Trisha apenas tem o seu rádio portátil para a confortar. Grande adepta de Tom Gordon, um lançador dos Boston Red Sox, escuta os jogos de basebol e fantasia que o seu herói irá salvá-la. No entanto, a natureza não é o seu único adversário – algo perigoso pode estar na pista de Trisha através da floresta escura.

 

MISERY

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Mais um livro de King que serviu de base a um excelente filme. E mais uma vez o livro consegue ser ainda mais envolvente e assustador.

Sinopse: Paul Sheldon é um famoso escritor de romances cor-de-rosa, tornado célebre pela personagem principal das suas obras, Misery Chastain. Porém, Sheldon entendeu que estava na hora de virar a página e decidiu “matar” Misery. É então que sofre um terrível acidente de viação e é socorrido por Annie Wilkes, uma ex-enfermeira que o leva para sua casa para o tratar. O que Paul não sabe é que Annie, a sua salvadora, é também a sua maior fã, a mais fanática e obcecada de todas — e está furiosa com a morte de Misery. Ferido e incapaz de andar, totalmente à mercê de Annie, Paul é obrigado a escrever um novo livro para “ressuscitar” Misery, como uma Xerazade dos tempos modernos nas mãos de uma psicopata tresloucada que há muito deixou de distinguir a realidade da ficção. Repleto de complexos jogos psicológicos entre refém e captor, "Misery" é uma obra de suspense e terror no seu estado mais puro.

 

OS LANGOLIERS (incluído no livro “MEIA NOITE E DOIS”)

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Um conto fascinantemente estranho e opressivo, e Stephen King mais uma vez conseguiu colocar-me dentro do ambiente da história, como se eu fosse uma das personagens.

Sinopse: Num voo nocturno de Los Angeles para Boston, apenas onze passageiros sobrevivem – mas a aterragem num mundo que está morto faz com que desejem não ter sobrevivido.

 

Além de ter uma imaginação delirante, Stephen King escreve bem, sabe descrever os ambientes, as personagens, contar a história de forma fluida sem maçar, manter o interesse. É distracção garantida.

 

 

Ainda não leram nada dele? Estão a torcer o nariz a este tipo de leitura? Então experimentem… e depois digam lá se eu não tenho razão.

 

 

* Sinopses retiradas dos sites de vendas de livros online ou do Goodreads.

 

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O Principezinho pop-up

por Ana CB, em 01.06.16

 

A propósito da exposição “A saltar do livro” que a Biblioteca Nacional mostra ao público até dia 9 de Setembro , e também porque hoje é o Dia da Criança, lembrei-me de partilhar convosco mais um dos meus livros preferidos.

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Quem não conhece “O Principezinho” de Antoine de Saint-Exupéry? É um dos livros mais belos e mais acarinhados de sempre, apreciado tanto por adultos como por crianças. Já publicado em 220 línguas e dialectos, faz parte do Plano Nacional de Leitura para o 2º ciclo do ensino básico. Um clássico.

 

Tenho duas cópias da 6ª edição deste livro publicada pela Editorial Aster – qualquer delas aí com perto de 40 anos. Têm o formato habitual que conhecemos do livro, e já estão amareladas e manchadas pelo tempo.

 

Mas sabiam que a Presença publicou há poucos anos uma versão em formato pop-up?

 

E eu, que sou louca por estes livros, claro que tive de o comprar.

 

A tradução deste livro, feita por Joana Morais Varela, é um bocadinho diferente da mais antiga, da autoria de Alice Gomes, mas os desenhos obviamente que são os do próprio Saint-Exupéry, apenas adaptados – e muito bem! – ao formato pop-up.

 

Deixo-vos aqui algumas imagens deste livro que desperta a criança que há dentro de mim. Ainda e sempre.

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Há sempre um livro desconhecido à espera de nós #5

por Ana CB, em 12.05.16

 

Policial, histórico, baseado em factos verídicos, com um toque de "noir" aqui e ali… poder-se-ia pensar que um livro com tanta mistura de géneros se revelasse uma coisa sem pés nem cabeça. Mas não, nada disso, é precisamente o contrário que acontece nesta sugestão de leitura de que hoje vos falo.

 

"VOLTE-FACE" de Steven Saylor

 

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Título: Volte-Face

Título original: A Twist at the End

Autor: Steven Saylor

Ano de lançamento: 2000

 

Editora: Quetzal Editores

Publicação: Outubro 2003

Número de páginas: 552

Tradução: Maria José Figueiredo

 

 

Sinopse

 

Em 1885 Austin, no Texas, é um lugar feito de pó e sonhos, fortunas rápidas e desejos selvagens. Mas “O aniquilador das empregadas domésticas” também está a transformá-la numa cidade de medo. A primeira vítima, uma governanta mulata, é arrancada da sua cama e assassinada. Outras seis mulheres irão morrer, incluindo a bonita e loira Eula Phillips, amante do empregado bancário Will Porter. Uma década mais tarde, vivendo em Nova Iorque sob o nome de O. Henry, Will não consegue escapar às suas memórias – nem às exigências impiedosas de um chantagista. É então que uma carta misteriosa o convida a regressar ao Texas para seguir o caminho obscuro de um assassino sádico e fazer uma descoberta espantosa, enquanto é forçado a confrontar-se com os demónios da sua própria mente atormentada.

(sinopse traduzida a partir daqui)

 

 

A minha opinião

 

Steven Saylor é conhecido pelos seus livros policiais que constituem a série “Roma Sub Rosa”, protagonizada pelo genial Gordiano, o Descobridor, que desvenda crimes e mistérios de forma pouco ortodoxa durante os conturbados anos áureos da civilização romana. Neste “Volte-Face”, o escritor consegue mais uma vez conjugar personagens e factos verídicos com a dose de imaginação certa para nos oferecer um policial cheio de peripécias, tendo como cenário de fundo a cidade de Austin no início do séc. XIX. Associando a vaga de assassinatos macabros (nunca desvendados) que ocorreu nesta cidade a um potencial pré-Jack o Estripador, cuja identidade nos é revelada no final, o escritor mostra-se mais uma vez exímio na arte de misturar factos e ficção e demonstra aqui a sua versatilidade ao sair da “zona de conforto” do império romano, onde já nos tinha provado estar como peixe na água.

Mesmo sendo apreciadora de longa data de Steven Saylor e da sua arte de contar histórias de forma interessante (li avidamente todos os livros da série “Roma Sub Rosa”) gostei particularmente deste livro, tanto que já o li duas vezes. O ritmo da narrativa vai-se intensificando com o desenrolar da história, e às tantas dei por mim ansiosa por conhecer o final, tantas eram as dúvidas sobre qual seria o desfecho do livro e se haveria realmente um volte-face surpreendente.

Não quero ser spoiler, por isso nada mais direi. Apenas que este livro é entretenimento puro.

 

(Nota: há alguns exemplares à venda em vários sites de livros usados, e a preços em conta.)

 

 

Há sempre um livro desconhecido à espera de nós #1

por Ana CB, em 29.07.15

 

Dando início ao desafio que me propus aqui há dias, a minha primeira sugestão é um livro que acho bem apropriado para ler em tempo de férias. Não será certamente um livro fácil de encontrar, mas existe à venda em segunda mão.

 

“A ESTRATÉGIA DO BOBO” de Serge Lentz

  

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Título: A Estratégia do Bobo

Título original: La Stratégie du Bouffon

Autor: Serge Lentz

Ano de lançamento: 1990

 

Editora: Círculo de Leitores

Publicação: Outubro 1993

Número de páginas: 382

Tradução: António Gonçalves

 

 

Sinopse

 

Em Roma, incitado por uma mãe tão rica quanto ambiciosa, Nicolas d’Ausonne torna-se prelado com a idade de vinte e três anos. É um homem belo com um espírito brilhante, mas também um debochado sem emenda. Por ter apostado no cardeal errado na altura do conclave de 1458 (o chamado conclave das latrinas…), o jovem prelado cai em desgraça e vê-se exilado num mosteiro esquecido da região de Vallée Borgne, uma fenda árida e despovoada situada entre Cévennes e o Languedoc.

Acha-se assim na situação dos funâmbulos das feiras, que suscitam a admiração das pessoas quando caminham sobre um cabo, e o gozo de todos quando caem. Estes bobos nunca podem ser heróis, a não ser que voltem a subir para o cabo e consigam proezas ainda maiores.

Para Nicolas d’Ausonne, isto é uma questão de estratégia. E ele encontra o seu instrumento na pessoa de Marin, um monge com voz de ouro, misto de soldado, médico e por vezes burlão para as necessidades da sua causa. Ao contrário dos outros pregadores do seu tempo, que falam de um apocalipse eminente e encorajam os fiéis às mortificações mais violentas, Marin prega o amor de Deus através da alegria de viver e do bom uso dos prazeres da vida… Todos os prazeres!

Num séc. XV tão cristão, esta visão torna-se evidentemente a origem de várias desordens. É uma sucessão de furores e maravilhas, cruzadas com alcovitices e agressões, povoadas de gente brutal e de homens do clero, de monges errantes e de mulheres admiráveis, uma crónica tratada com aparato numa nuvem de palavras deslumbrantes. Tal como em “Les années-sandwiches” e “Vladimir Roubaïev”, também aqui Serge Lentz desfralda uma bandeira que ostenta as cores mais radiantes da vida.

(tradução da sinopse publicada aqui)

 

A minha opinião

 

Li e reli este livro, e agora que voltei a folheá-lo estou com vontade de o ler novamente. Tem todos os ingredientes que valorizo: um enredo original, contexto histórico, personagens cativantes, episódios rocambolescos, muito humor e muita sensibilidade. Está bem escrito, mas lê-se facilmente, quase de um só fôlego – ficamos agarrados desde as primeiras páginas, e não apetece largá-lo. Não há um único instante de monotonia nesta história que nos fala de amizade, de prazer, e de uma forma muito original de olhar para a religião. Os protagonistas são simultaneamente truculentos, amorais e adoráveis, mesmo nos seus piores momentos, e afeiçoamo-nos a eles de tal maneira que estamos o tempo todo a torcer para a que a história tenha um fim feliz.

A escrita de Serge Lentz é fluida, elegante e bem-humorada, e ele consegue imprimir ao texto a mistura adequada de gravidade e ligeireza para nos proporcionar uma leitura agradável, enquanto nos leva a reflectir de forma profunda e sensível sobre a natureza da fé.

Tendo feito a sua carreira profissional essencialmente como jornalista, Serge Lentz tem poucas obras publicadas, mas todas elas foram alvo de rasgados elogios e prémios. Infelizmente, creio que “A Estratégia do Bobo” terá sido o seu único livro publicado em português – pelo menos não encontrei mais nenhum nas minhas pesquisas na net. Mas há sempre a possibilidade de as ler em francês, para quem entender a língua.

Ou pode ser que um dia destes algum editor iluminado se lembre de publicar os seus livros no nosso país.

 

Falando de filmes (só para variar)

por Ana CB, em 15.10.14

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Pediu-me a M* aqui que dissesse quais os 15 filmes que mais me marcaram. Só que eu já sabia que iria ser uma tarefa impossível, muito mais difícil do que quando fiz a lista dos meus livros favoritos (que está aqui). Adoro cinema, mas a relação que tenho com os filmes é muito mais leve do que a que tenho com os livros. A um livro dedico mais tempo, atenção e energia do que a um filme, porque ler exige mais de nós do que simplesmente olhar para uma tela ou um ecrã. Quando leio um livro sou eu que construo as cenas na minha cabeça, tenho de usar a imaginação. Já quando vejo um filme sou mais passiva, aceito o que me entra pelos olhos e ouvidos adentro – posso ter de raciocinar para compreender o que me está a ser mostrado, mas não há grande espaço para a imaginação. A juntar a tudo isto, tenho uma excelente memória visual, por isso não é muito habitual em mim querer mesmo rever algum filme, a não ser passado já bastante tempo, normalmente anos, quando já não me lembro bem de certas partes. E só naqueles casos em que gostei realmente do filme, porque dos que não gosto, ou que me são indiferentes, acabo muitas vezes por esquecer quase tudo.

Mas adiante. Comecei por fazer uma lista daqueles de que me lembro ter gostado muito – e quando dei por mim já ia em 80, mesmo ignorando alguns que são óbvios (quem não gosta dos filmes da saga Indiana Jones, do Senhor dos Anéis, ou do ET, só para dar alguns exemplos?) e com tendência para aumentar. Depois fui escolhendo aqueles que por um motivo ou outro causaram em mim maior reacção, a ponto de nunca mais me terem saído da memória – e alguns vi-os pela primeira vez quando era bastante novinha. Mesmo assim, a lista ainda era enorme, mas com muito esforço lá consegui reduzi-la a 20 títulos, e menos que isto é realmente impossível.

Sem ordem de preferência (optei pela alfabética), aqui estão eles, cada um com um pequeno e muito pessoal comentário:

A imperatriz vermelha (The scarlet empress), de Josef von Sternberg, 1934

A história da imperatriz russa Catarina, a Grande, interpretada por Marlene Dietrich no seu melhor. Um clássico, embora não muito conhecido.

A mulher que viveu duas vezes (Vertigo), de Alfred Hitchcock, 1958

Adoro Hitchcock, um verdadeiro mago do suspense. A célebre cena da torre do sino é verdadeiramente antológica. Como na maior parte dos filmes daquela época, as interpretações dos actores são um pouco exageradas, mas isso dá-lhe um certo charme.

A origem (Inception), de Christopher Nolan, 2010

Um filme que parece uma matrioshka, com uma história dentro de uma história dentro de uma história, a ponto de às vezes não sabermos bem onde estamos. Tenho de o rever, para perceber se o impacto vai ser o mesmo.

A promessa (Wu Ji), de Chen Kaige, 2005

Filme chinês de produção mista, é visualmente fabuloso. Uma mistura de tragédia, romance, fantasia e acção, bem ao gosto oriental, com uma cinematografia irrepreensível. A crítica não foi simpática com o filme, sobretudo por causa do argumento, mas a realidade é que ele é mesmo um festim para os olhos.

Apocalypse now, de Francis Ford Coppola, 1979

A primeira vez que vi este filme, no cinema (visto na tv não é bem a mesma coisa…), só saí já depois de terminado o genérico, e completamente mesmerizada. Parece ser sobre guerra, mas é muito mais do que isso.

Assalto à 13ª esquadra (Assault on Precinct 13), de John Carpenter, 1976

É um dos filmes menos conhecidos de Carpenter, mas sem dúvida o meu preferido acima de todos os outros que realizou. Suspense em doses industriais e uma realização contida mas genial, cheia de pormenores, que fazem com que este filme passado num espaço fechado seja tudo menos maçador. E bastante melhor do que o remake de 2005 de Jean-François Richet.

Boneca de luxo (Breakfast at Tiffany’s), de Blake Edwards, 1961

Este é daqueles em que não consigo evitar chorar sempre que o vejo. Apesar de ser um romance levezinho, é um clássico, e o tema musical (Moon River) ganhou um Óscar. Audrey Hepburn está excepcional e só pelo seu talento o filme já valeria a pena (embora a carinha laroca de George Peppard também não seja de ignorar, claro…).

Depois do ódio (Monster’s ball), de Marc Forster, 2001

Um drama pesado mas extremamente comovente sobre perdas e acasos da vida, e com fantásticas interpretações (Halle Berry ganhou um Óscar por este filme).

Eduardo Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands), de Tim Burton, 1990

Enternecedor, simbólico e esteticamente muito agradável, além de brilhantemente interpretado, marcou o início dos “mitos” Johnny Depp e Tim Burton.

Forrest Gump, de Robert Zemeckis, 1994

Não é possível ficar indiferente a este filme sobre uma pessoa que é, precisamente, diferente. Tom Hanks, como sempre, está genial.

Gravity, de Alfonso Cuarón, 2013

Um trabalho fantástico a vários níveis, sobretudo pela magnífica actuação de Sandra Bullock, pela excepcional banda sonora, pela montagem e pela realização, que conseguem transformar num grande filme uma história passada em ambiente quase fechado e que gira à volta de praticamente uma única personagem. Uma ode à coragem, à resistência e à superação dos limites.

O amor é um lugar estranho (Lost in translation), de Sofia Coppola, 2003

É impossível não sentir empatia com as personagens principais deste filme, apanhadas numa espécie de “cápsula espácio-temporal” (metaforicamente falando, claro), afectadas pelo jet lag e solitárias no meio da multidão. Porque o amor nasce e existe de variadas formas.

O estranho mundo de Jack (The nightmare before Christmas), de Henry Selick, 1993

Na altura em que foi lançado, foi uma pedrada no charco no cinema de animação. Não há como não adorar Jack e este argumento adaptado por Tim Burton, tão soturno e ao mesmo tempo tão profundamente sensível.

O mundo a seus pés (Citizen Kane), de Orson Welles, 1941

Ainda considerado como o maior/melhor filme (americano) de sempre, e livremente inspirado na vida de William Randolph Hearst, rompeu com muitos dos estereótipos habituais no cinema hollywoodiano da época. Imprescindível ver.

Os cavalos também se abatem (They shoot horses, don’t they?), de Sydney Pollack, 1969

Um drama passado na época da Depressão, quando as pessoas lutavam pela sua sobrevivência até às últimas consequências, sujeitando-se a tudo e sendo facilmente exploradas. Triste, angustiante até, leva-nos a reflectir sobre grandes questões que continuam actuais nos dias de hoje. Com um excelente elenco, encabeçado por Jane Fonda.

Os condenados de Shawshank (The Shawshank redemption), de Frank Darabont, 1994

Mais um daqueles filmes que consigo ver vezes sem conta, e sempre com o mesmo prazer. Apesar de os protagonistas serem reclusos e não tão “santos” quanto isso, passamos o filme todo a torcer por eles. Um argumento genial (um dos escritores foi o imaginativo Stephen King) e óptimas interpretações de Morgan Freeman e Tim Robbins. Também considerado como um dos melhores filmes de sempre.

Os inadaptados (The misfits), de John Huston, 1961

Drama escrito por Arthur Miller, este filme foi por coincidência o último tanto para Clark Gable como para Marilyn Monroe, o par romântico protagonista. Montgomery Clift, num excelente papel secundário, morreria também poucos anos mais tarde. Quase como os actores que lhes deram vida, as personagens são pessoas mal ajustadas à sociedade ou em vias de extinção, à deriva e em luta com os seus próprios fantasmas.

Os suspeitos do costume (The usual suspects), de Bryan Singer, 1995

Um elenco de luxo, uma história diferente entre o policial e o drama, e um final tão inesperado que nos deixa de boca aberta.

Sete pecados mortais (Se7en), de David Fincher, 1995

Entre o thriller e o film noir, com um argumento pesado mas muito bem concebido, desenvolvido num “crescendo” incomodativo que nos faz questionarmo-nos: Até onde consegue ir a maldade humana? E até que ponto conseguimos resistir ao sofrimento (físico ou psicológico) antes de quebrarmos?

Tudo sobre a minha mãe (Todo sobre mi madre), de Pedro Almodóvar, 1999

Não tenho vergonha de confessar que choro desalmadamente sempre que vejo este filme. A maternidade, a morte e a vida, os acontecimentos que parecem predestinados, a redenção, os círculos da vida que se completam, está tudo aqui, contado de forma crua como é hábito em Almodóvar e com a também habitual sua galeria de personagens que saem do comum. Com algumas das suas actrizes preferidas, foi a rampa de lançamento de Penélope Cruz.

Os meus favoritos

por Ana CB, em 23.09.14

 

Esta moda dos desafios irrita-me um bocado, e até agora não tinha alinhado em nenhum. Mas há dias uma amiga muito querida desafiou-me a fazer uma lista de livros de que gosto, e a este eu não resisti – pela amiga em questão, e por ser sobre livros.

A tarefa não foi nada fácil e a lista inicial estava tão extensa que tive de cortar bastantes, e mesmo assim ainda é bem grandinha. Por essa mesma razão, e para a lista também não ser demasiado óbvia e entediante, optei por deixar de fora muitos clássicos e alguns best-sellers muito “badalados” e já conhecidos de quase toda a gente, e escolhi alguns que serão certamente desconhecidos para a maioria das pessoas.

Tentei também incluir livros de vários géneros diferentes, a bem da diversidade.

É, está claro, uma lista muito pessoal e sem quaisquer pretensões intelectuais ou comerciais.

 

“O Tao do Pooh” – Benjamin Hoff

“Mas é Bonito” – Geoff Dyer

“Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada” – Pablo Neruda

 

“Histórias Extraordinárias” – Edgar Allan Poe

“Guerra e Paz” – Leon Tolstoi

“O Retrato de Dorian Gray” – Oscar Wilde

 

“As Intermitências da Morte” – José Saramago

“A Cidade e as Serras” – Eça de Queiroz

“Retalhos da Vida de um Médico” – Fernando Namora

“O Império dos Pardais” – João Paulo Oliveira e Costa

 

“Wolf Hall” e “O Livro Negro” – Hilary Mantel

“Um Quarto com Vista” – Edward Morgan Forster

“O Físico” – Noah Gordon

“O Perfume” – Patrick Süskind”

“O Boticário do Rei” – Jean-Christophe Rufin

Trilogia do Cairo (“Entre os Dois Palácios”, “O Palácio do Desejo”, “O Açucareiro”) – Naguib Mahfouz

“A Alameda do Rei” – Françoise Chandernagor

“A Estratégia do Bobo” – Serge Lentz

“Da Parte da Princesa Morta” – Kenizé Mourad

“O Tempo Entre Costuras” – María Dueñas

 

“Americanah” – Chimamanda Ngozi Adichie

“Cem Anos de Solidão” – Gabriel Garcia Márquez

“O Quinto Filho” – Doris Lessing

“Meia Noite no Jardim do Bem e do Mal” – John Berendt

 

“A Dália Negra” – James Ellroy

Trilogia Millennium (“Os Homens que Odeiam as Mulheres”, “A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo”, “A Rainha no Palácio das Correntes de Ar”) – Stieg Larsson

“O Assassinato de Roger Ackroyd” – Agatha Christie

 

“1984” – George Orwell

“Admirável Mundo Novo” – Aldous Huxley

“Viagem Fantástica ao Cérebro” – Isaac Asimov

“O Hobbit” – JRR Tolkien