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Gene de traça

Livros e etc.

Obrigada, SAPO! #7

por Ana CB, em 02.11.16

 

O Sapinho voltou a destacar mais um post dos meus – foi ontem, mas ando tão atarefada que só hoje dei por isso.

E nesta época só podia ser sobre ficção fantástica, pois está claro J))

 

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Mais uma vez, obrigada à equipa do Sapo Blogs!

 

Terror, horror, fantástico e coisas assim

por Ana CB, em 31.10.16

 

Desde que me lembro, sempre tive medo do escuro. Medo mesmo, a ponto de durante algum tempo precisar de dormir com uma lamparina acesa (sim, naquela altura ainda se usavam lamparinas) à entrada do quarto. A minha nictofobia durou muitos anos, e já era bem adulta quando finalmente passou. Escusado será dizer que fui também uma miúda facilmente impressionável, por isso nunca convivi muito bem com histórias que envolvessem monstros, seres sobrenaturais e afins. Estranhamente, o sangue nunca me incomodou – podia ver ou ler sobre as maiores sangueiras do mundo, que isso não me afectava. Mas bastava lançarem um espírito demoníaco ou um alien predador na história para me verem toda encolhidinha de medo.

 

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Tinha aí uns quinze anos quando li “O Exorcista” de William Peter Blatty, que tinha na altura dado origem ao filme. Acabei de o ler já noite dentro, e estava tão aterrorizada que me levantei e fui acendendo as luzes todas da casa até chegar à divisão onde a minha irmã dormia para a acordar sem cerimónias e lhe pedir para ficar a falar comigo durante um bocado.

 

A experiência foi suficientemente traumatizante para me manter arredada de livros do género durante muitos anos.

 

Mas o mesmo não posso dizer em relação aos filmes, pois de vez em quando lá caía na asneira de ir ver um filme de terror, fosse porque desconhecia que era desse género, fosse porque a curiosidade falava mais alto do que a minha cautela, fosse porque alguém acabava por me convencer a ir com o argumento de que estaria a perder “um filme muito bom”. E se “O Tubarão”, por exemplo, não me afectou por aí além, o mesmo não posso dizer do “Drácula” na sua versão de 1979, de “A Semente do Diabo” (mais conhecido pelo título original, “Rosemary’s Baby”), ou de “Alien, o 8º Passageiro” (o primeiro filme da saga), que me deram pesadelos durante inúmeras noites – isto só para citar alguns.

  

A verdade é que eu cresci numa época em que a ideia do mundo era transmitida às crianças como um lugar cheio de perigos desconhecidos, fossem eles de origem humana ou sobrenatural. Até as histórias supostamente infantis mais populares pareciam ter como missão aterrorizar mais do que distrair: um lobo que come pessoas, uma bruxa que oferece uma maçã envenenada, uma casinha de chocolate onde vive uma bruxa que come criancinhas, um país onde a rainha ordena indiscriminadamente que se cortem cabeças… Convenhamos que nada disto era propriamente adequado a tranquilizar espíritos timoratos.

 

Era uma altura em que os dinossauros eram monstros horrorosos e destruidores como a “Godzilla”, os vampiros eram seres demoníacos sem um pingo de bondade no corpo, e os zombies apareciam não se sabe bem porquê e eram praticamente invencíveis. Hoje mudou tudo: os dinossauros viraram bichos fofinhos e maioritariamente inofensivos, os vampiros e lobisomens são personagens românticos e incompreendidos, e os mortos-vivos são as pobres vítimas de uma qualquer experiência que correu mal e há até quem se dedique a tentar encontrar uma cura para a sua doença. Talvez por oposição ao mundo, que parece estar cada vez mais perigoso e louco, a imagem dos misteriosos representantes do Mal de outros tempos tem vindo a ser progressivamente “adocicada”.

 

Apesar disso – ou, quem sabe, por causa disso - o género está bem e recomenda-se, tanto na literatura como no cinema.

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E a propósito de género, de que é que falamos quando falamos em ficção de terror, horror, fantástico e etc.?

 

A linha que divide o terror do horror é tão fina que muitas vezes nem conseguimos separar um do outro. Mas existe alguma diferença. O terror é geralmente descrito como sendo um sentimento de pavor, de medo antecipado, quando achamos que algo de muito mau vai acontecer. Já o horror é o que sentimos quando vemos ou ouvimos algo que nos causa repulsa, ou passamos por uma experiência extremamente desagradável. O terror está relacionado com os nossos medos e ansiedades, com a nossa imaginação, e anda frequentemente de mãos dadas com o suspense, enquanto o horror é uma reacção involuntária na sequência de um acontecimento que nos choca ou amedronta.

 

A ficção fantástica é toda aquela que aborda factos que fogem à nossa lógica e à nossa realidade. Pode contar-nos histórias de fantasia, sobrenaturais ou ir pelos caminhos da ficção científica. Pode manter-nos em suspense, criar atmosferas de terror e causar-nos horror. Pode também encantar-nos, abrir as comportas da nossa imaginação e levar-nos a mundos desconhecidos para experimentarmos emoções contraditórias. E está de muito boa saúde nos dias que correm.

 

Na verdade, cada vez há mais público fiel ao género. E mais escritores para o alimentarem, que lançam novidades a um ritmo alucinante e para todos os gostos. Na onda deste filão recém-descoberto, os clássicos são revisitados e reinventados, e alguns viram autores de culto. Criam-se sequelas e prequelas, há adaptações de livros para a tv e o cinema, e os argumentos de filmes e séries transformam-se em livros.

 

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Apesar de ter ultrapassado a minha nictofobia de forma natural e sem dar conta, a minha relação com a ficção de terror continua atribulada. Por vezes adoro, por vezes deixa-me inquieta e detesto. Mas só mesmo a de terror, que de resto sou bastante fã da ficção fantástica, e isto já desde miúda – muito provavelmente desde que a minha mãe me deu “Os mais belos contos de fadas” (de que já falei aqui) e mais tarde alguns livros de Júlio Verne, que foi sem dúvida o precursor da ficção científica moderna. Em adolescente li os clássicos “A guerra dos mundos” de H.G.Wells, “1984” de George Orwell, “Admirável mundo novo” de Aldous Huxley, e “Tales of Mistery & Imagination”, uma compilação de alguns dos melhores contos de Edgar Allan Poe, que ainda hoje continuam a ser dos meus livros preferidos. E “Fahrenheit 451” e outros de Ray Bradbury, além das obrigatórias obras de culto “Drácula” de Bram Stoker e “Frankenstein” de Mary Shelley. Mais tarde “descobri” Tolkien e o seu “Hobbit”, Isaac Asimov e a sua “Fantástica viagem ao cérebro”, e a saga “Dune” de Frank Herbert.

 

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Li “Contacto”, de Carl Sagan, assim que saiu, vários de Michael Crichton (o autor de “Parque Jurássico” e “A Esfera”) e “Um estanho numa terra estranha” do polémico Robert Heinlein. Depois viciei-me em Stephen King (também já falei sobre ele neste post) e li também George R.R.Martin, o autor das “Crónicas de gelo e fogo”, que deram origem à série “A Guerra dos Tronos”. E sabiam que até Isabel Allende já fez “uma perninha” no campo do fantástico? Não falo de “A casa dos espíritos”, que se enquadra na corrente do realismo mágico, mas sim de uma trilogia que escreveu entre 2002 e 2004 e dá pelo nome genérico de “As aventuras da Águia e do Jaguar” e cujos protagonistas são dois adolescentes e um macaco que se vêem enredados em estranhas aventuras em vários pontos do globo – histórias onde as espiritualidade e o sobrenatural se entrelaçam com uma nítida preocupação ecológica e antropológica.

 

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Podia ainda falar de Anne Rice, Clive Barker, Justin Cronin ou Gillian Flynn, e de muitos outros, ou das famosíssimas J.K.Rowling e Stephanie Meyers, mas então é que este post não terminava nunca…

 

É como eu disse acima: a ficção fantástica, seja de terror ou outra, está de boa saúde e a florescer a olhos vistos. Eu gosto. E vocês?

 

Stephen King

por Ana CB, em 01.08.16

 

Stephen King é provavelmente o mais prolífico escritor de histórias de terror/ficção fantástica de sempre. Livros publicados são mais de setenta (alguns sob o pseudónimo Richard Bachman), e entre contos e argumentos para cinema e televisão tem mais umas quantas dezenas de obras. Segundo a Wikipedia, é o nono autor mais traduzido em todo o mundo, com uma estimativa de 350 milhões de cópias vendidas em 40 países.

 

Um fenómeno de popularidade, cujos primeiros sucessos foram “Carrie” e “The Shining” (“A Luz”, na tradução portuguesa), prontamente adaptados ao cinema e hoje já com o estatuto de filmes de culto.

 

Fui uma adolescente emotiva e facilmente impressionável, e por isso não particularmente fã de filmes deste tipo; consequentemente, não fiz questão de os ver quando estrearam em Portugal. Mas mesmo quando os vi em adulta (e gostei, claro!), o nome de Stephen King continuou a passar-me ao lado. Creio que só com “Misery – O capítulo final”, um filme muito mais dentro das minhas preferências, despertei para o fenómeno Stephen King.

 

E depois, um belo dia, o Círculo de Leitores (ah, que saudades de folhear a revista!) decidiu lançar uma colecção com as suas obras, e foi a rendição total: fiquei fã dos livros logo a partir da primeira leitura. Porque se os filmes são bons, os livros são ainda melhores.

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Resumindo: tenho 21 – sim, vinte e um – livros de Stephen King. Há já muito tempo que não leio nada dele, mas em Fevereiro vai estrear no cinema “A Torre Negra” e está a ser gerada alguma expectativa em torno do filme – que ainda por cima tem o (fantástico, carismático, e sei lá mais o quê) Idris Elba como um dos protagonistas.

 

O mais espantoso em Stephen King é que não se repete. Apesar de alguns pontos de contacto aqui e ali, cada um dos seus livros ou contos é uma novidade, uma história diferente, um outro ambiente fantástico; a sua imaginação não tem limites. É certo que “Christine” e “Buick 8” têm como protagonista um carro, que “Desperation” e “Os Reguladores” (este assinado por Richard Bachman) têm um pano de fundo semelhante, e existe uma ligação assumida entre “O Jogo de Gerald” e “Eclipse Total”. Mas o enredo é desenvolvido de maneira diversa em cada livro, e King consegue sempre surpreender-me. Assusta-me, mantém-me em suspenso, enerva-me, irrita-me, enoja-me. Às vezes violento, outras subtil, por vezes sensível, mexe sempre comigo.

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É claro que não gostei de igual modo de todos estes livros de Stephen King que já li. Tenho os meus preferidos, e não me perguntem porque é que gostei mais destes do que dos outros, porque seria a mesma coisa que perguntarem-me porque é que gosto mais de azul do que de roxo. Aqui está a lista, com as respectivas sinopses.*

 

OS OLHOS DO DRAGÃO

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Dentro da diversidade dos livros de King, este é aquele que sai ainda mais fora do estilo habitual do autor. Claro que mete magia e sobrenatural, mas é passado em ambiente medieval e a história está escrita um bocado à maneira de um conto de fadas. Provavelmente destinado a um público mais adolescente, a verdade é que li-o de um fôlego, e reli-o mais tarde, e vou voltar a lê-lo.

 

Sinopse: Uma história fantástica de heróis e aventuras, de dragões, príncipes e feiticeiros malévolos. O reino de Delain vive momentos de grande turbulência porque o seu rei Roland morreu e Peter, o príncipe herdeiro, tem de lutar para conseguir o que é seu por direito. Tem contra si o terrível feiticeiro Flagg, que quer pôr no trono o irmão de Peter, Thomas, a quem consegue manipular mais facilmente. Mas claro que, como todos os planos, este tem as suas falhas… por exemplo, o terrível segredo de Thomas.

 

INSÓNIA

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É um livro um bocado viciante, senti-me em “banho-maria” durante algum tempo e ansiosa por perceber o que se passava realmente, e depois quando comecei a apanhar o fio à meada não conseguia largar o livro, ansiosa por saber o desfecho.

Sinopse: Ralph Roberts tem um problema: nos últimos dias não tem dormido muito bem. Na verdade, não tem dormido nada. Depois de sofrer vários traumas na sequência da morte da mulher com um tumor cerebral, a insónia que gradualmente o vai invadindo é o pior de tudo. Dormindo cada vez menos horas, Ralph instala-se numa cadeira diante da janela e observa quem passa para matar as horas. Ao fim de algum tempo apercebe- se de que todos os seres humanos possuem um fio de vida no mundo. E se esse fio fosse cortado abruptamente, como aconteceu à sua mulher?

 

OS TOMMYKNOCKERS

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São 777 páginas com uma história do outro mundo, certamente um dos seus maiores livros. Angustiante, por vezes até agoniante, mas estranhamente fascinante.

Sinopse: Alguma coisa está a acontecer na pequena e idílica cidade de Haven, no Maine, onde vive Bobbi Anderson. Alguma coisa que deu a cada homem, mulher e criança da cidade poderes muito maiores do que os de um comum mortal. Alguma coisa que transformou a cidade numa armadilha mortal para todos os forasteiros. Alguma coisa que veio de um objecto de metal, enterrado durante milénios, que Bobbi encontrou acidentalmente. Não é como se Bobbi e a boa gente de Haven tivessem vendido as suas almas para colherem as recompensas do demónio mais mortal deste lado do inferno. É mais como que uma espécie de possessão diabólica… uma invasão do corpo e da alma – e da mente…

 

À ESPERA DE UM MILAGRE

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O filme – realizado por Frank Darabont e com Tom Hanks como protagonista – é muito bom, e o livro consegue ser talvez ainda melhor, porque nos dá mais pormenores e nos envolve mais na história, lançando pistas a conta-gotas até descobrirmos a verdade.

Sinopse: Na penitenciária de Cold Mountain, ao longo da solitária fila de celas conhecida como a “Milha Verde”, assassinos tão depravados como o psicopático "Billy the Kid" Wharton e o possuído Eduard Delacroix aguardam que a morte chegue, quando forem amarrados à "Old Sparky". Aqui, são vigiados por guardas tão correctos como Paul Edgecombe, ou tão sádicos como Percy Wetmore. Mas bons ou maus, inocentes ou culpados, nenhum cometeu um crime tão brutal quanto o novo prisioneiro, John Coffey, condenado à morte por ter violado e matado duas meninas. Será Coffey um diabo em forma de gente? Ou será que é um tipo de ser humano muito, muito diferente?

 

A RAPARIGA QUE ADORAVA TOM GORDON

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Há muitos miúdos e adolescentes nas histórias de Stephen King. Por vezes sãos os “maus da fita”, outras vezes são heróis. Mesmo quando a imagem que o escritor nos transmite é mais “normal”, como no caso da protagonista deste livro, há sempre um volte-face que nos surpreende.

Sinopse: Trisha McFarland, de nove anos, afasta-se do caminho marcado quando ela, o seu irmão e a sua mãe recentemente divorciada fazem um passeio ao longo de um ramal do Trilho dos Apalaches. Perdida durante dias, afastando-se cada vez mais, Trisha apenas tem o seu rádio portátil para a confortar. Grande adepta de Tom Gordon, um lançador dos Boston Red Sox, escuta os jogos de basebol e fantasia que o seu herói irá salvá-la. No entanto, a natureza não é o seu único adversário – algo perigoso pode estar na pista de Trisha através da floresta escura.

 

MISERY

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Mais um livro de King que serviu de base a um excelente filme. E mais uma vez o livro consegue ser ainda mais envolvente e assustador.

Sinopse: Paul Sheldon é um famoso escritor de romances cor-de-rosa, tornado célebre pela personagem principal das suas obras, Misery Chastain. Porém, Sheldon entendeu que estava na hora de virar a página e decidiu “matar” Misery. É então que sofre um terrível acidente de viação e é socorrido por Annie Wilkes, uma ex-enfermeira que o leva para sua casa para o tratar. O que Paul não sabe é que Annie, a sua salvadora, é também a sua maior fã, a mais fanática e obcecada de todas — e está furiosa com a morte de Misery. Ferido e incapaz de andar, totalmente à mercê de Annie, Paul é obrigado a escrever um novo livro para “ressuscitar” Misery, como uma Xerazade dos tempos modernos nas mãos de uma psicopata tresloucada que há muito deixou de distinguir a realidade da ficção. Repleto de complexos jogos psicológicos entre refém e captor, "Misery" é uma obra de suspense e terror no seu estado mais puro.

 

OS LANGOLIERS (incluído no livro “MEIA NOITE E DOIS”)

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Um conto fascinantemente estranho e opressivo, e Stephen King mais uma vez conseguiu colocar-me dentro do ambiente da história, como se eu fosse uma das personagens.

Sinopse: Num voo nocturno de Los Angeles para Boston, apenas onze passageiros sobrevivem – mas a aterragem num mundo que está morto faz com que desejem não ter sobrevivido.

 

Além de ter uma imaginação delirante, Stephen King escreve bem, sabe descrever os ambientes, as personagens, contar a história de forma fluida sem maçar, manter o interesse. É distracção garantida.

 

 

Ainda não leram nada dele? Estão a torcer o nariz a este tipo de leitura? Então experimentem… e depois digam lá se eu não tenho razão.

 

 

* Sinopses retiradas dos sites de vendas de livros online ou do Goodreads.

 

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O fantástico mundo dos livros

por Ana CB, em 17.06.16

 

A BIBLIOTECA

Zoran Živković

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Título: A Biblioteca

Autor: Zoran Živković

Ano de lançamento: 2002

 

Editora: Cavalo de Ferro

Publicação: 3ª edição – Janeiro 2015

Número de páginas: 104

Tradução: Aridjana Medvedeć

Revisão: Tiago Marques

 

 

“A Biblioteca” é um delicioso pequeno livro de contos (uma mera meia dúzia) que giram à volta de livros, leitores, escritores e… exactamente, bibliotecas.

 

Vencedor do WORLD FANTASY AWARD em 2003, tal como o nome do prémio indica é um livro que se enquadra na categoria do fantástico. Todos os contos têm na sua génese uma grande dose de fantasia, engenhosamente misturada com o real e com uns pozinhos de humor aqui e ali.

 

E há também em todos eles um certo “suspense”, um elemento que nos intriga e faz querer não parar de ler até percebermos aonde a história nos leva, e conhecermos o seu desfecho – que é, no entanto, muitas vezes um final semi-aberto… deixando o que se passará depois por conta da nossa imaginação.

 

No conto “A Biblioteca Virtual”, um escritor vê-se de repente na presença de uma página online onde encontra descrita toda a sua obra passada e… futura.

 

“A Biblioteca Particular” gira à volta de uma caixa de correio que “produz” um livro novo de cada vez que é aberta.

 

Em “A Biblioteca Nocturna”, um cliente assíduo de uma biblioteca chega depois da hora de encerramento, para descobrir que à noite a “sua” biblioteca é bem diferente.

 

“A Biblioteca Infernal” é um lugar onde são expiados eternamente os “pecados” cometidos em vida.

 

Um dos protagonistas do conto “A Biblioteca Minimal” é um livro que oferece um conteúdo diferente de cada vez que é aberto.

 

E o herói de “A Biblioteca Requintada” é um livro teimoso e surpreendente – e a história acaba por nos surpreender também.

 

Além de terem a mesma temática – o universo dos livros – existe um denominador comum a quase todos os protagonistas humanos destes vários contos: a obsessão. Todos eles, e com a excepção do conto “A Biblioteca Infernal”, têm um comportamento obsessivo (e por vezes também compulsivo) em maior ou menor grau. Diferentes na sua concepção básica, une-os o fio comum dos livros e desses laivos mais ou menos acentuados de obsessão, o que acaba por conferir ao livro no seu todo um certo carácter unitário.

 

Além da sua presença na Feira do Livro, Zoran Živković esteve no passado dia 6, ao fim da tarde, na Bertrand do Chiado à conversa com quem teve a sorte de ir lá para o ouvir. E digo sorte porque além de bom escritor, é também um excelente conversador. Simpático, bem-humorado e muito afável, não se coibiu de revelar muitos pormenores do seu processo de escrita, a forma como lhe surgem as suas histórias, como as escreve, e o que para ele significa escrever: uma grande vontade de contar histórias que despertem e mantenham o interesse dos leitores.

 

Com o recente lançamento de “O Livro”, são já seis os títulos de obras de Zoran Živković publicados pela editora Cavalo de Ferro. “A Biblioteca” foi o primeiro livro que li deste autor e deixou-me, sem qualquer dúvida, com vontade de ler mais.