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Gene de traça

Livros e etc.

O Principezinho pop-up

por Ana CB, em 01.06.16

 

A propósito da exposição “A saltar do livro” que a Biblioteca Nacional mostra ao público até dia 9 de Setembro , e também porque hoje é o Dia da Criança, lembrei-me de partilhar convosco mais um dos meus livros preferidos.

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Quem não conhece “O Principezinho” de Antoine de Saint-Exupéry? É um dos livros mais belos e mais acarinhados de sempre, apreciado tanto por adultos como por crianças. Já publicado em 220 línguas e dialectos, faz parte do Plano Nacional de Leitura para o 2º ciclo do ensino básico. Um clássico.

 

Tenho duas cópias da 6ª edição deste livro publicada pela Editorial Aster – qualquer delas aí com perto de 40 anos. Têm o formato habitual que conhecemos do livro, e já estão amareladas e manchadas pelo tempo.

 

Mas sabiam que a Presença publicou há poucos anos uma versão em formato pop-up?

 

E eu, que sou louca por estes livros, claro que tive de o comprar.

 

A tradução deste livro, feita por Joana Morais Varela, é um bocadinho diferente da mais antiga, da autoria de Alice Gomes, mas os desenhos obviamente que são os do próprio Saint-Exupéry, apenas adaptados – e muito bem! – ao formato pop-up.

 

Deixo-vos aqui algumas imagens deste livro que desperta a criança que há dentro de mim. Ainda e sempre.

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Reviver o passado na Cornualha

por Ana CB, em 26.10.14

OS APANHADORES DE CONCHAS

Rosamunde Pilcher 

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Título: Os Apanhadores de Conchas

Título original: The Shell Seekers

Autor: Rosamunde Pilcher

Ano de lançamento: 1987

 

Editora: (sic) idea y creación editorial, s.l.

Publicação: Novembro 2008

Número de páginas: 280

Tradução (cedida pela Editora Difel): Eduardo Saló

 

Rosamunde Pilcher é uma escritora inglesa nascida na Cornualha e internacionalmente reconhecida e premiada, e “Os Apanhadores de Conchas” é sem dúvida o seu livro mais famoso. Autora de vários contos e vinte e oito romances, começou a escrever em 1949 sob o pseudónimo de Jane Fraser e só em 1955 passou a usar o seu próprio nome na vida literária.

 

A história deste romance está construída à volta de Penelope Stern Keeling, uma mulher que tem uma forma incomum de encarar a vida e o mundo que a rodeia. É também a história da sua família, ascendentes e descendentes, e de algumas outras pessoas que se cruzam no seu percurso de vida. Penelope já tem mais de 60 anos e descobriu recentemente que sofre de uma doença cardíaca. O seu pai foi um pintor famoso que viveu grande parte da vida na Cornualha, onde Penelope também passou muitos Verões e alguns anos durante a 2ª Guerra Mundial. “Os Apanhadores de Conchas” é precisamente um dos seus quadros, e a sua única obra acabada que continua na posse da filha. Um recente aumento na procura e valor dos seus trabalhos leva dois dos filhos de Penelope a pressionarem a mãe a vender o quadro para satisfazerem os seus próprios interesses financeiros. Mas Penelope é uma mulher que se rege pelas suas próprias normas e aquele quadro representa para ela uma ligação ao passado que ela não quer perder. A doença recentemente diagnosticada e algumas outras ocorrências fortuitas, a par com o conflito aberto com aqueles seus filhos, levam-na a tomar consciência da sua mortalidade iminente e impelem-na a concretizar decisões há muito adiadas, numa atitude que é vista por uns como rebeldia demente, e por outros como independência de direito.

 

Narrado de forma modular, a acção do livro afasta-se por vezes da sua personagem principal para se centrar nos movimentos e pensamentos de outras pessoas que fazem parte da vida da protagonista, mostrando-nos a sua perspectiva dos acontecimentos. E transporta-nos, também a espaços, para o passado, revelando-nos lentamente o que está por detrás das atitudes de Penelope, à medida que nos conta a sua história.

 

Este foi o primeiro livro de Rosamunde Pilcher que li, e só posso dizer que gostei imenso. Sim, é verdade que há na história uma clara estereotipação das personagens, e uma ainda mais clara divisão ente “bons” e “menos bons”, sendo que os “menos bons” são as pessoas mais “formatadas” e conservadoras, que dão mais importância às aparências e aos bens materiais, e os “bons” aquelas que saem dos padrões e dão evidente primazia aos sentimentos. Mas isso não diminui a qualidade da obra, nem o prazer que me deu ler este livro. Existe muita sensibilidade na escrita de Rosamunde Pilcher, e muita riqueza narrativa também. A forma como nos transmite aquilo que cada personagem está a sentir é na maioria das vezes subtil, adivinha-se nas entrelinhas, na descrição dos movimentos, dos cenários. Há pensamentos e decisões que não nos são revelados directamente, mas apenas sugeridos ou até mesmo intencionalmente escondidos, e apenas deles tomamos conhecimento concreto mais tarde. A autora cria assim como que uma certa atmosfera de “suspense”, lança algumas pistas, deixa cair um comentário que indicia algo importante, mas sem o concretizar – e por vezes só vários capítulos à frente é que conseguimos vir a saber o que é. A história gira à volta de segredos, e a escrita consegue criar em nós essa sensação sem nos apercebermos. Ler este livro obriga-nos a um exercício intuitivo, e sem dúvida que fiquei com vontade de ler mais obras dela.

 

O exemplar que li é de origem editorial espanhola, apesar de estar em português, e em formato quase de bolso – foi distribuído a preço reduzido em conjunto com uma revista semanal. Apesar de a qualidade não ser das melhores, e das muitas e sempre irritantes gralhas e algumas falhas na tradução, óbvias e inadmissíveis (porque para isso servem os revisores), de uma maneira geral a qualidade até está melhor do que aquilo que seria de esperar de uma edição deste tipo.

 

Como nota final, e para quem for amante de viajar como eu, fica um aviso: ler este livro vai despertar a vontade de conhecer a Cornualha e as suas paisagens agrestes. Porthkerris (a localidade na Cornualha onde tem lugar uma parte da história) existe realmente, e pelas imagens que vi nas minhas pesquisas parece ser tão encantadora quanto as descrições de Rosamunde Pilcher dão a entender. E aqui está uma ideia que me parece interessante pôr em prática no futuro: levar na bagagem, sempre que possível, um livro que fale do local que vou visitar.

 

O que estou a ler: Corações Sagrados, de Sarah Dunant.

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Os meus favoritos

por Ana CB, em 23.09.14

 

Esta moda dos desafios irrita-me um bocado, e até agora não tinha alinhado em nenhum. Mas há dias uma amiga muito querida desafiou-me a fazer uma lista de livros de que gosto, e a este eu não resisti – pela amiga em questão, e por ser sobre livros.

A tarefa não foi nada fácil e a lista inicial estava tão extensa que tive de cortar bastantes, e mesmo assim ainda é bem grandinha. Por essa mesma razão, e para a lista também não ser demasiado óbvia e entediante, optei por deixar de fora muitos clássicos e alguns best-sellers muito “badalados” e já conhecidos de quase toda a gente, e escolhi alguns que serão certamente desconhecidos para a maioria das pessoas.

Tentei também incluir livros de vários géneros diferentes, a bem da diversidade.

É, está claro, uma lista muito pessoal e sem quaisquer pretensões intelectuais ou comerciais.

 

“O Tao do Pooh” – Benjamin Hoff

“Mas é Bonito” – Geoff Dyer

“Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada” – Pablo Neruda

 

“Histórias Extraordinárias” – Edgar Allan Poe

“Guerra e Paz” – Leon Tolstoi

“O Retrato de Dorian Gray” – Oscar Wilde

 

“As Intermitências da Morte” – José Saramago

“A Cidade e as Serras” – Eça de Queiroz

“Retalhos da Vida de um Médico” – Fernando Namora

“O Império dos Pardais” – João Paulo Oliveira e Costa

 

“Wolf Hall” e “O Livro Negro” – Hilary Mantel

“Um Quarto com Vista” – Edward Morgan Forster

“O Físico” – Noah Gordon

“O Perfume” – Patrick Süskind”

“O Boticário do Rei” – Jean-Christophe Rufin

Trilogia do Cairo (“Entre os Dois Palácios”, “O Palácio do Desejo”, “O Açucareiro”) – Naguib Mahfouz

“A Alameda do Rei” – Françoise Chandernagor

“A Estratégia do Bobo” – Serge Lentz

“Da Parte da Princesa Morta” – Kenizé Mourad

“O Tempo Entre Costuras” – María Dueñas

 

“Americanah” – Chimamanda Ngozi Adichie

“Cem Anos de Solidão” – Gabriel Garcia Márquez

“O Quinto Filho” – Doris Lessing

“Meia Noite no Jardim do Bem e do Mal” – John Berendt

 

“A Dália Negra” – James Ellroy

Trilogia Millennium (“Os Homens que Odeiam as Mulheres”, “A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo”, “A Rainha no Palácio das Correntes de Ar”) – Stieg Larsson

“O Assassinato de Roger Ackroyd” – Agatha Christie

 

“1984” – George Orwell

“Admirável Mundo Novo” – Aldous Huxley

“Viagem Fantástica ao Cérebro” – Isaac Asimov

“O Hobbit” – JRR Tolkien

 

Um policial clássico escrito a várias mãos

por Ana CB, em 24.08.14

 

“QUEM MATOU O ALMIRANTE?”

 

The Detection Club 

 

 

 

Título: Quem Matou o Almirante?

Título original: The Floating Admiral

Autor: The Detection Club

Ano de lançamento: 1931

 

Editora: Edições Asa II

Publicação: 1ª edição – Junho 2014

Número de páginas: 344

Tradução: Mário Dias Correia

 

 

Confesso que já andava com algumas saudades de ler um policial clássico, daqueles em que o objectivo do enredo é simplesmente descobrir quem cometeu o crime, como e porquê. E quando vi que um dos autores deste livro era Agatha Christie, ainda fiquei mais curiosa.

 

Sendo um clássico no conteúdo, na forma como foi escrito este policial já não o é tanto assim. De facto, “Quem Matou o Almirante?” tem nada mais nada menos do que treze autores (catorze, se considerarmos que um deles é o casal G.D.H. Cole e Margaret Cole), cada um encarregue de escrever um capítulo, e todos eles membros do The Detection Club. Este Clube, de origem algo misteriosa mas que sobrevive até hoje, é constituído por autores de ficção policial do Reino Unido (actualmente tem cerca de sessenta membros), cuja admissão está dependente de cumprirem algumas condições e prestarem um juramento de fidelidade ao Clube, às regras de ficção policial estabelecidas pelo mesmo, e aos leitores. Embora, nas palavras de Dorothy L. Sayers, uma das fundadoras, ele exista “sobretudo com o propósito de jantarmos juntos a intervalos regulares e falarmos de trabalho até às tantas”.

 

O enredo é basicamente simples, como é habitual nestas novelas: numa típica e sonolenta vilazinha inglesa é encontrado um cadáver num barco à deriva no rio. O inspector Rudge, um também típico polícia inglês de província, vê-se a braços com a complicada tarefa de tentar descobrir quem foi o autor do crime, para o que terá de desenredar uma intrincada meada que envolve suspeitos vários, motivos obscuros, personagens misteriosas, amarras cortadas, horários de marés, peças de vestuário diversas, um jornal e uma chave, e um sem número de outros pormenores que vão adensando a trama à medida que a história progride.

 

Mas se a história de base promete, tal como a maioria dos policiais clássicos, várias horas de leitura empolgante até ao último capítulo, onde a chave para a solução do crime é finalmente desvendada, na prática o resultado fica bastante aquém do esperado. Depois de um prólogo enigmático e três ou quatro capítulos em que o trabalho detectivesco segue um fio coerente, liderado por um inspector classicamente caracterizado, e cada personagem que surge contribui com novos elementos que adensam o mistério, o enredo começa a descambar à medida que cada autor parece fazer questão, no capítulo com que contribui para o livro, em “baralhar” o cenário a seu bel-prazer e de forma por vezes quase absurda. Há reviravoltas constantes, com factos novos e por vezes pouco credíveis a serem introduzidos em qualquer momento, pistas que parecem prometedoras e importantes num capítulo são descartadas num ápice ou simplesmente esquecidas no capítulo seguinte, e a própria caracterização dos intervenientes é quase constantemente posta em causa não só pelos novos factos que vão surgindo, como principalmente pela atracção que cada autor parece ter por imprimir o seu cunho muito pessoal aos “bonecos” criados para a história, dando prioridade ao seu próprio estilo em detrimento da homogeneidade do livro. Esta “oscilação de humores” é particularmente visível no caso do inspector Rudge, que é afinal de contas a personagem principal do enredo, e cuja personalidade vai apresentando tantas variações de capítulo para capítulo que chega a ficar por vezes irreconhecível.

 

No capítulo VIII a história já está tão baralhada que Ronald Knox decide ocupar as suas trinta e oito páginas com uma longa e fastidiosa lista de “trinta e nove artigos de dúvida” que se acumularam até ali, o que só piora a situação. São muitas páginas aborrecidas e praticamente desprovidas de interesse para o leitor e que cortam quase completamente a relativa curiosidade que o enredo despertava até essa altura. Poderiam ser eventualmente úteis para os seus colegas escritores que se lhe seguiram, mas na verdade não foi esse o resultado, porque daí para a frente a trama parece tornar-se ainda mais intrincada. Por esta altura, o livro parece um comboio prestes a descarrilar.

 

O último capítulo, por força das circunstâncias, acaba por ser quase um livro dentro do livro. A meada está tão enredada que não é possível desenleá-la em poucas palavras. Anthony Berkeley precisa de quase setenta páginas para o fazer, e mesmo assim o resultado é pouco mais do que sofrível – mas diga-se em sua defesa que não é possível remendar sem deixar marcas um tecido que tem tantos buracos.

 

Cada cabeça, sua sentença, e este livro é a prova disso. Apesar de todos os autores, com excepção dos que escreveram os dois primeiros capítulos, terem sido obrigados a entregar com o seu manuscrito a solução que proporiam para finalizar a história, obviamente tendo em conta o ponto em que ela se encontrava quando saía das suas mãos, este pormenor não parece ter contribuído para que o resultado geral do livro fosse melhor. Todas estas soluções são-nos também reveladas em Apêndice e embora umas sejam mais engenhosas ou verosímeis do que outras, a verdade é que não ajudam a aligeirar a imagem global de que este livro poderá ter sido um cativante exercício de escrita para os seus autores mas é incapaz de despertar, mesmo que remotamente, o mesmo interesse em quem o lê.

 

 

Estou a ler agora: O Fogo, de Katherine Neville