A vida como ela é
A VIDA AMOROSA DE NATHANIEL P.
Adelle Waldman
Título: A Vida Amorosa de Nathaniel P.
Título original: The Love Affairs of Nathaniel P.
Autor: Adelle Waldman
Ano de lançamento: 2013
Editora: Teorema
Publicação: 1ª edição – Março 2015
Número de páginas: 288
Tradução: Luís Rodrigues dos Santos
“A Vida Amorosa de Nathaniel P.” gira à volta de um escritor em ascensão que vive em Nova Iorque e dos seus relacionamentos com o meio social e cultural em que se move e as mulheres. Aclamado “Livro do Ano” por vários jornais de referência, como o “The New Yorker”, o “The Guardian” ou o “Chicago Tribune”, entre outros, este livro acaba por ser uma espécie de crónica sobre um determinado tipo de “fauna” nova-iorquina e os seus hábitos sociais. Contundente sem no entanto cair no moralismo (que é habitualmente tão querido dos norte-americanos), Adelle Waldman oferece-nos a visão nua e crua do que poderá ser nos dias de hoje a vida de um jovem numa cidade americana moderna.
Nate Piven é ambicioso, talentoso e incapaz de manter uma relação amorosa sã e duradoura. O seu entusiasmo por qualquer mulher é breve e não resiste à continuidade de um relacionamento, embora por vezes ele se deixe “ir na onda” – mas apenas por comodismo. Só que Nate tem consciência das suas fraquezas de carácter e daquilo que a sociedade espera dele, por isso vive quase constantemente em conflito consigo próprio, dividido entre o seu egoísmo consciente e a pressão de querer dar aos outros uma boa imagem de si. Sempre narrada do ponto de vista de Nate, embora não na primeira pessoa, a história entrelaça de forma natural pedaços do presente com reminiscências de acontecimentos passados, momentos de introspecção com diálogos e descrições vívidas, e nunca se torna repetitiva ou aborrecida.
A impressão maior com que fiquei deste livro-surpresa-best seller de Adelle Waldman é a de que a história e as suas personagens poderiam muito bem ser reais. Não existem cenários idílicos, situações mirabolantes ou pessoas excepcionais. Tudo parece tangível, e todas as personagens são extremamente credíveis. Com as devidas distâncias por se tratar de uma história que se desenvolve no seio de uma fatia específica da sociedade nova-iorquina, qualquer daquelas pessoas poderia ser eu ou um de vocês, qualquer acontecimento descrito poderia ter lugar na vida real. Não há “paninhos quentes” nem operações de cosmética que suavizem ou embelezem as situações narradas no livro.
A forma como a autora, sendo mulher, consegue descrever tão profundamente e de forma isenta aquilo que se passa na cabeça de um homem é outro dos aspectos surpreendentes do livro. Não sendo um exercício de escrita inusitado, é contudo pouco habitual e certamente nada fácil de executar sem cair no chavão ou escorregar no preconceito. Objectivo que Adelle Waldman consegue de forma brilhante em contenção, evitando até o facilitismo de um final previsível.
É um livro fácil de ler, apesar da reduzida simpatia que sentimos intermitentemente pela personagem principal, interessante sobretudo pela crítica social implícita ao longo de toda a história. E que levanta mais uma vez a grande dúvida: estará a sociedade ocidental dos nossos dias a transformar-nos em autistas dos afectos?